William Faulkner, perguntado sobre quais eram os três maiores romances de todos os tempos, respondeu: ‘Anna Kariênina, Anna Kariênina, Anna Kariênina’. Para Vladímir Nabókov, a obra é ‘uma das maiores histórias de amor da literatura mundial’. E Thomas Mann, no prefácio incluído neste volume, o considera ‘o romance social mais poderoso’ já escrito. Seja qual for o aspecto privilegiado na leitura, esta obra-prima de Tolstói fatalmente está entre as mais importantes criações literárias da humanidade.
Rico panorama da agitada Rússia de fins do século XIX, a obra — publicada entre 1875 e 1877 na revista Mensageiro Russo, e em 1878 em livro —, narra, por um lado, o drama da bela e impetuosa Anna Kariênina, que, infeliz no casamento, enfrenta o julgamento cruel da alta sociedade de Moscou ao assumir sua paixão pelo conde Vrônski. Por outro lado, acompanhamos o proprietário de terras Lióvin — que incorpora a persona do autor — em sua busca pelo ideal de uma vida feliz no campo ao lado da jovem Kitty, bem como seus dilemas intelectuais em torno da fé e da justiça social.
Vertido diretamente do russo por Irineu Franco Perpetuo, que também assina o posfácio, esta nova tradução acompanha todas as nuances do imortal romance de Tolstói, seja na exuberante riqueza de detalhes da narrativa, seja na fascinante profundidade psicológica das personagens, para recriar uma obra em que, ainda segundo Thomas Mann, ‘a arte raramente se aproximou tanto da natureza’.
Sobre o autor
Lev Nikoláievitch Tolstói nasce em 1828 na Rússia, em Iásnaia Poliana, propriedade rural de seus pais, o conde Nikolai Tolstói e a princesa Mária Volkônskaia. Em 1845, Tolstói ingressa na Universidade de Kazan para estudar Línguas Orientais, mas abandona o curso e transfere-se para Moscou e depois para Petersburgo. Em 1851 alista-se no exército russo, servindo no Cáucaso, e começa a sua carreira de escritor, publicando os livros de ficção Infância, Adolescência e Juventude em 1852, 1854 e 1857, respectivamente. De volta à Iásnaia Poliana, funda uma escola para os filhos dos servos de sua propriedade rural. Em 1862 casa-se com Sófia Andréievna Behrs, então com dezessete anos, com quem teria treze filhos. Os cossacos é publicado em 1863, Guerra e paz, entre 1865 e 1869, e Anna Kariênina, entre 1875 e 1878, livros que trariam enorme reconhecimento ao autor. No auge do sucesso, Tolstói passa a ter recorrentes crises existenciais, processo que culmina na publicação de Confissão, em 1882, onde o autor renega sua obra e assume uma postura social-religiosa que se tornaria conhecida como ‘tolstoísmo’. Mesmo assim, continua a produzir obras-primas como as novelas A morte de Ivan Ilitch (1886), A Sonata a Kreutzer (1891) e Khadji-Murát (1905). Espírito inquieto, foge de casa aos 82 anos de idade para se retirar em um mosteiro, mas falece a caminho, vítima de pneumonia, na estação ferroviária de Astápovo, em 1910.