A filosofia popular brasileira está nas ruas, nas experiências cotidianas e ancestrais, nos conhecimentos herdados e aprendidos nas encruzilhadas, nos terreiros e nos feitiços, na ginga dos malandros, nas veredas dos vaqueiros, nas saias das pombagiras. Saberes que vão tomando o seu espaço, desafiando os conceitos de uma história única e linear e se impondo frente a um conhecimento hegemônico e limitador.
Trata-se, portanto, de uma ativa proposta contra a colonização dos pensamentos e das ideias o que esses três pensadores e professores brasileiros – Luiz Antonio Simas, Luiz Rufino e Rafael Haddock-Lobo – apresentam em Arruaças, um livro povoado de histórias, aprendizagens e encantamentos.
‘Arruaça é também uma guerra em que os modos populares têm, como tática, artimanhas não convencionais. O Brasil das sinhás, sinhôs e de toda carga imantada por eles é aquele que precisa ser rasurado pela brasilidade dos viventes que para aqui se bandearam. Seja nas matas, praias, esquinas, rodas, improvisos, várzeas e recantos onde tocam-se tambores, há inúmeras formas de ir ao campo de batalha. Riscando pólvora na rua, botando o corpo na praça ou se emaranhando nos buracos desse chão, existe um infinito repertório de fazeres que nutrem a existência da brasilidade.’
Apresentação de Wanderson Flor do Nascimento
Texto de orelhas de Janaína Damasceno
Sobre o autor
Luiz Antonio Simas é escritor, historiador, professor e compositor popular. Tem dezenove livros, diversas canções gravadas e mais de uma centena de artigos publicados em jornais e revistas sobre festas de rua, sambas, culturas brasileiras, futebol e carnaval. Pelo Dicionário da História Social do Samba, escrito em parceria com Nei Lopes, recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção, em 2016. Foi finalista do mesmo prêmio em 2018. Desde 2012 dá aulas sobre culturas populares em praças, botequins e ruas do Rio de Janeiro. Lançou pela Bazar do Tempo o Almanaque Brasilidades – Um inventário do Brasil popular.
Luiz Rufino é escritor, pedagogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Tem cinco livros publicados, entre eles Pedagogia das Encruzilhadas (2019), além de dezenas de artigos publicados em revistas e jornais sobre culturas brasileiras, educação, religiosidades, diáspora africana, filosofias e crítica ao colonialismo. Carioca, filho de pai e mãe cearenses é aprendiz de capoeira, curimba e tem nas rodas e ruas sua principal inspiração e interlocução com o conhecimento.
Rafael Haddock-Lobo é filósofo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório X de Encruzilhadas Filosóficas. É autor e coautor de diversos livros dedicados a temas contemporâneos, desconstrução e, mais recentemente, crítica da colonialidade, entre eles Da existência ao infinito (2005), Derrida e o labirinto de inscrições (2008), Para um pensamento úmido (2011), Experiências abissais (2019) e Os fantasmas da colônia (2020). Desde que ingressou na vida universitária, vem tentando ampliar a compreensão acadêmica de filosofia e propondo novas linhas de pesquisa e disciplinas, tanto na graduação como pós-graduação, que incluam os saberes populares brasileiros, africanos, afrodiaspóricos e ameríndios como reconhecidamente filosóficos. Desde 2018 defende uma filosofia popular brasileira e apresenta suas experimentações de escrita na sua coluna na HH Magazine.