O olhar que Mariléa de Almeida lança sobre as mulheres quilombolas, suas biografias e seus projetos serve para descrever como o afeto é um elemento constituinte de seus espaços de vida, seus projetos coletivos, suas lutas políticas. Mariléa nos faz compreender que, sem ter em conta as relações de afeto, perdemos uma parte fundamental da experiência que sustenta as relações territoriais. Mas também é possível reivindicar aqui as reflexões da antropóloga Jeanne Favret-Saada sobre ‘ser afetado’, para apreender como o trabalho de Mariléa, além de realizar uma história e um inventário das formas pelas quais o afeto produz espaços de vida nos quilombos, tem no próprio afeto um método, ou uma dimensão central da pesquisa. O modo como a autora se aproxima de suas interlocutoras, destacando as linhas que cruzam e aproximam suas experiências às delas, também acaba por constituir a própria pesquisa como um território de afetos. Narrando experiências de dezenas de mulheres quilombolas do estado do Rio de Janeiro, este livro é capaz de demonstrar, com sensibilidade, como a luta pode ganhar a forma do cuidado, como a resistência pode se manifestar na ternura, como o território é produzido, atualizado e mantido pela capacidade de criar espaços seguros, nos quais é possível uma reconciliação com as histórias, os corpos e os saberes violados. Pelos olhos, pelos ouvidos e pelas mãos de Mariléa de Almeida, o quilombo torna-se quilombola.
— José Maurício Arruti, na orelha
Sobre o autor
Mariléa de Almeida nasceu em 1973, na cidade de Vassouras (RJ). Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sua tese recebeu, em 2020, menção honrosa no Prêmio de Teses Ecléa Bosi, promovido pela Associação Brasileira de História Oral. Em 2015, realizou doutorado sanduíche na Universidade Columbia, em Nova York, sobre os feminismos negros estadunidenses (1980-1990). Escritora das encruzilhadas, seus textos mesclam história, literatura, filosofia e psicanálise.