Marina Tsvetáeva fixou o olhar longamente, ao longo de toda a sua vida, sobre uma divindade aterrorizante: o tempo. «Dou ouvidos a algo que soa dentro de mim de maneira constante, mas não regular, dando-me ora indicações, ora ordens. Quando indica – discuto; quando ordena – obedeço». Esse «algo que soa» era a palavra de poesia. O tempo aterroriza porque «ele só corre porque corre, corre para correr», mas «não corre para lugar nenhum»
A palavra poética, que se pretende absoluta desde os grandes românticos, é o paradoxo de um imponderável que permanece intacto, presa de nós todos, que «somos lobos do bosque impenetrável do Eterno».
Sobre essa tensão, que vibra um instante antes de se romper, Marina Tsvetáeva construiu a sua obra. O livro que aqui se apresenta reúne três ensaios que possuem exatamente essa tensão como objeto, tocando assim o segredo de Tsvetáeva. Desde Novalis, raras vezes o risco da poesia como absoluto encontrou uma formulação tão drástica, tão elementar, tão peremptória. Tsvetáeva atenua o fanatismo da forma, que é a nossa herança moderna. Nela, um coração profundamente arcaico nos transmite «batidas que dão a exata pulsação do século
Sobre o autor
(1892–1941) cresceu em anos de prodigioso florescimento da poesia russa. Estreou, ainda jovem, com os versos de Álbum da tarde (1910). E já antes da revolução, havia publicado outras coleções de líricas. Exilada a partir de 1922, primeiro em Boemia e depois em Paris, decidiu voltar à Rússia em 1939. Dois anos depois morreria suicida em Elabuga.