Impossível não se emocionar com a menina órfã, de corpo miúdo, que vive assustada pelos cantos da casa e apanha todos os dias, apenas para a satisfação de sua patroa. Negrinha não tem nome, nasceu de mãe escrava e a abolição nada fez pela pequena. Sua história abre essa coletânea de contos de Monteiro Lobato, considerando por muitos como os melhores textos da obra adulta do autor, sobretudo pela carga dramática que carregam. São um retrato detalhado da mentalidade escravocrata no período pós – abolição e nos alertam para um Brasil que ainda hoje precisa ser combatido.
Sobre o autor
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um homem multifacetado. Além de fundador da literatura infantil brasileira com o Sítio do Picapau Amarelo, ele teve um papel crucial como editor e empresário na construção da indústria editorial no Brasil. Também foi um tradutor talentoso, trazendo obras de autores renomados como Lewis Carroll, Ernest Hemingway e Mark Twain para o público brasileiro. Sua trajetória incluiu diversas profissões, como jornalista, adido comercial, fazendeiro, investidor e crítico de arte. Apesar de ter abandonado o sonho de ser artista plástico, ele deixou uma coleção de desenhos e aquarelas que refletem sua origem em Taubaté, São Paulo, e sua busca pela modernidade no Brasil. Sua obra literária destacou-se com o lançamento de Urupês em 1918, que trouxe à tona questões sobre o atraso do campo brasileiro. O autor adotou a fala caipira em suas narrativas, distanciando-se do linguajar dos romances realistas urbanos do Rio de Janeiro. Em suas histórias, ele abordou temas como a decadência da economia cafeeira e a herança escravista. No entanto, algumas de suas ideias eugenistas resultaram em expressões racistas em suas histórias infantis, o que gerou polêmicas. Apesar desses aspectos controversos, Lobato foi reconhecido por sua habilidade de pintar com palavras e criar uma escrita elegante, deixando um legado literário importante.