É tarefa instigante delimitar os usos que Ricardo Aleixo faz da palavra, esteja ela escrita no papel ou ‘jogada no vento’, como diz um de seus mais conhecidos poemas. ‘Vidapoesia’ é o exato neologismo usado pelo autor para descrever uma relação situada nos limites da linguagem e da existência — dinâmica incomum que, numa bem-vinda aproximação com a prosa, recebe neste livro contornos afetivos específicos.
Mas as memórias que compõem este volume não são apenas reminiscências. Vão além do memorialismo, injetando novas tensões ao gênero que outros grandes poetas brasileiros, como Manuel Bandeira e Murilo Mendes, praticaram em seus anos de maturidade. Descrevendo desde os primeiros contatos com as letras, ainda criança em Belo Horizonte, a lembrança puxa a crítica, desvela o comentário, anuncia rápidos arranjos ensaísticos e abre alas para a poesia. A prosa memorialística de Aleixo, híbrida por si só, deixa evidente uma inseparável ligação sua com as bordas da literatura, numa constante reinvenção do passado pela palavra escrita e avoada, a todo tempo distendida.
Não por acaso, suas lembranças também são testemunhos da afirmação contra os privilégios, a condescendência e o preconceito que atravessam a trajetória de um artista que faz desses temas motivos recorrentes em sua obra.
Sobre o autor
Ricardo Aleixo é poeta, performer, músico e artista visual, além de mineiro de Belo Horizonte, onde nasceu em 1960. Foi considerado doutor por notório saber pela UFMG.