Em ‘viver sem Deus’, o nome aponta para a representação tradicional e comum do Mistério Primordial transcendente, representação esta que, na verdade, acabou sendo revestida de traços antropomorfos pela cultura pré-moderna. Por transformar o Mistério Primordial em uma pessoa todo-poderosa (ou até em três pessoas) e situá-la(s) em um mundo paralelo acima do nosso, tal representação deve ser classificada como pré-moderna. A partir daquele mundo superior, essa ‘pessoa’ interviria, como e quando quisesse, em nosso mundo terreno. Ela o faria em forma de revelações, decretos de lei, predições e – dependendo da conduta humana – em forma de recompensas e castigos. Uma representação impregnada de tanto antropomorfismo não é mais crível para o homem moderno, que, afinal, já passou pelo Esclarecimento. Em sua avaliação, quase tudo a contradiz, ao passo que nada mais a apoia.
Sobre o autor
Roger Charles Lenaers (nascido em 4 de janeiro de 1925 em Ostend ) é jesuíta na diocese de Innsbruck. Ele entrou na Companhia de Jesus em 1942 e seguiu os cursos regulares na Escola Jesuíta de Filosofia e Teologia e línguas clássicas em uma universidade.