Obra-prima da escritora sueca Selma Lagerlöf, A saga de Gösta Berling, inédita no Brasil, é tida como precursora do realismo fantástico. Autora foi a primeira mulher ganhadora do Nobel.
Uma natureza pungente, um lago deslumbrante volta e meia congelado, campos nevados, árvores imponentes e o cerco de animais ameaçadores como ursos, linces, lobos, e também mais dóceis como cães, cavalos e corujas. A eles ocasionalmente se reúnem criaturas fantásticas, como trolls, duendes e a ninfa da floresta. O distrito de Värmland, na fronteira da Suécia com a Noruega, é o cenário onde se desenvolve A saga de Gösta Berling, o primeiro livro publicado pela sueca Selma Lagerlöf (1858-1940), e ela, por sua vez, a primeira mulher a receber um prêmio Nobel de Literatura, em 1909. Esse romance incomparável, nunca publicado no Brasil, traz ainda um ensaio da escritora francesa Marguerite Yourcenar.
Gösta Berling, um homem bonito, capaz de provocar paixões arrebatadoras, é um pastor destituído depois de alguns vexames provocados pelo alcoolismo. Rejeitado pela comunidade, torna-se mendigo e depois cavalheiro da casa senhorial de Ekeby, graças à compaixão de Margareta Celsing, a mulher mais poderosa de Värmland, controladora de sete fundições de ferro e amante do vinho e das cartas, e da mesa repleta de alegres convivas. Em pouco tempo, Gösta torna-se o ‘cavalheiro dos cavalheiros’, que sozinho era maior orador, cantor, músico, caçador, bebedor e jogador do que todos os outros 12 cavalheiros de Ekeby juntos. Vários críticos contemporâneos veem nesse romance de estreia um precursor do realismo mágico.
Sobre o autor
Selma Lagerlöf (1858-1940) nasceu na província sueca de Värmland, e se tornou a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1909. Em 1914, também inauguraria a presença feminina na Academia Sueca, da qual se tornou membro. Professora, publicou seu primeiro livro, ‘A saga de Gösta Berling’ (1891), aos 33 anos, e obteve sucesso imediato, o que a permitiu largar o magistério e dedicar-se exclusivamente à carreira literária.
Com uma produção volumosa, a escritora conjugou seu engajamento em várias causas, entre elas o feminismo, o pacifismo e uma efetiva ajuda a judeus para saírem da Alemanha durante a ascensão do nazismo. Com os ganhos obtidos com a literatura, conseguiu recomprar a casa senhorial familiar que havia ido a leilão, e fazia recorrentes doações à comunidade camponesa e a escritores pobres. Em 1894, conheceu a escritora Sophie Elkan, que se tornou sua companheira até a morte desta, em 1921.
A extensa obra de Lagerlöf inclui várias coletâneas de contos, além de obras como ‘Jerusalem’, publicado em dois volumes (1901-1902), ou ‘A maravilhosa viagem de Nils Holgersson pela Suécia’ (seguido por ‘Novas viagens de Nils Holgersson’, 1906-1907). Concebido por encomenda como livro didático de geografia, o romance que narra as aventuras de um garoto que voa na garupa de um ganso selvagem tornou-se um grande sucesso, não só na Suécia, e foi traduzido para mais de cinquenta idiomas.
Selma Lagerlöf morreu após sofrer uma hemorragia cerebral em 16 de março de 1940.