A Educação, institucional ou não, nas mais diferentes épocas buscou, mesmo que subjacentemente, uma forma de existência mais humana. Respirável. Menos tediosa. Mais comprometida com os verdadeiros valores que nos conduzem durante a vida. A Educação, mesmo que acusada, pela maioria dos meios de comunicação e outros, de que jamais consegue cumprir seus ideais, justamente, é o movimento inefável e quase imperceptível de buscar um aprimoramento do homem. Este ser solitário que busca, incansavelmente, por mais que disfarce, motivos para viver uma humanidade mais plena e solidária. Ou uma solidão mais atenuada?
Esta coletânea é a prova de confiança de que um educador, quando, realmente, está comprometido com aquilo que faz e, sobretudo, acredita que suas expectativas (no sentido de elevação) em relação aos seus alunos, pode se tornar concreta. Em outras palavras: foi proposto aos alunos, integrantes deste livro, (orientandos) de Iniciação Científica, mestrado e doutorado que escrevessem parte de suas pesquisas. A proposta inicial foi de que se colocassem de forma reflexiva, justamente, para tentar buscar uma posição crítica para aquilo ao qual se propunham em seus trajetos de pesquisadores. Deixassem que seus pensamentos se movimentassem, minimamente, apesar das fontes de consulta e do rigor acadêmico. E a proposta está aqui materializada.
Cada texto contido neste livro teve uma orientação muito leve da organizadora. Por mais que os autores buscassem nossas intervenções e trilhas…isso não aconteceu. Cada um teve que exercitar suas respectivas capacidades de pesquisa, criatividade e intuição (no sentido rigoroso do conceito). Acreditamos que não existe outra forma de crescimento, em especial, no que tange à pesquisa. Eternamente um ato de coragem, desafio, extremamente solitário e faz com que cada autor se depare com suas insuficiências, eis um processo necessário. Emancipatório.
Fala-se muito em autonomia intelectual. Muito. Mas quando posta em prática ela quase desaparece. A eterna dependência, geralmente, fala mais alto. Eis um caminho fácil e indigno. Criar dependências intelectuais. Sinônimo de subserviência e escravidão.
Deixemos nossos alunos e orientandos em busca de seus sonhos e ideais de pesquisa. Deixemos nossos alunos criarem e inventarem atalhos que possam, de fato, nos levar à pluralidade e diversidade. Deixemos nossos alunos lutarem, solitários, com suas próprias dificuldades. Eles sempre podem mais do que possamos imaginar. Sempre puderam. Por um outro lado, somente podem caminhar com luz própria quando existe um pacto de confiança e compromisso. Sem um pacto nada é possível. E o pacto é costumeiramente doloroso. Em vários graus. Exige o famoso exercício do pensamento que, uma vez, profundamente, convocado…não encontra mais saídas ou atalhos de retorno. O verdadeiro exercício de pensamento capta, sequestra, (de maneira derradeira e irreversível), nossa frágil intimidade. Interioridade. Subjetividade. Não há mais como olhar para trás. Uma vez captados, condenados ao compromisso sério e cheio de sonhos de tornar este mundo contaminado de paixões alegres (como diria Spinoza). Aquelas paixões que estimulam, nós, seres humanos, a olhares mais compassivos diante das misérias as quais todos nós estamos condenados (por lembrar de Victor Hugo). Olhares mais profundos diante da solidão que, habitualmente, nos atravessa (por lembrar de Marco Lucchesi).
Despre autor
Ana Maria Haddad Baptista
Doutora e Mestra em Comunicação e Semiótica (PUC-SP). Pós-Doutora em História das Ciências (PUC-SP). Professora e pesquisadora dos Programas de Pós-Graduação em Educação (PPGE e PROGEPE) e de Graduação da UNINOVE. Líder de pesquisa do grupo Tempo-memória: Educação, Literatura e Linguagens (UNINOVE/CNPq). Membro do quadro de pesquisadores do CICTSUL (Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade), da Universidade de Lisboa. Autora e organizadora de diversos livros e coletâneas voltadas à pesquisa em Educação.