Em sete contos, todos inéditos no Brasil, o autor inglês põe personagens femininas – inquietas, complexas e insubmissas – no centro da narrativa
Poucos escritores penetraram tão fundo na alma feminina quanto o autor inglês D. H. Lawrence (1885-1930). Com uma franqueza tida como escandalosa em seu tempo, foi Lawrence o primeiro grande autor a abordar o desejo sexual das mulheres e sua realização, muitas vezes desafiando o domínio masculino, em obras fundamentais do modernismo britânico. Esta antologia reúne sete contos escritos entre 1910 e 1927, todos inéditos no Brasil, nos quais é central a presença das personagens femininas — inquietas, complexas e quase sempre insubmissas.
Se sua obra-prima, o romance O amante de Lady Chatterley, foi condenada por feministas nos anos 1970, pela dominância conferida à virilidade, nas histórias de As mulheres contam Lawrence soa como um pioneiro da luta pelos direitos da mulher, sobretudo ao próprio corpo e à vontade individual. Percebe-se como o autor critica o abismo social que separava mulheres de homens.
A maioria das histórias se passa nas Midlands, região de minas de carvão na Inglaterra onde trabalhava o pai do escritor e que é o cenário da maior parte das obras de Lawrence.
Despre autor
David Herbert Lawrence (1885-1930), ou D. H. Lawrence, foi um dos mais influentes escritores britânicos do século XX. Autor de romances, contos, poemas, peças, ensaios e relatos de viagem, Lawrence integrou um grupo de autores modernistas que, entre o início do século XX e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, provocou um abalo nas convenções literárias de língua inglesa, ao lado de nomes como Virginia Woolf, James Joyce, Katherine Mansfield e Aldous Huxley. Diferentemente do experimentalismo de Joyce, porém, Lawrence se valeu das técnicas ficcionais do século XIX para introduzir novos assuntos e atualizações linguísticas num amálgama que, embora se atenha aos recortes cotidianos, insere silenciosamente na narrativa questões sociais, políticas e psicológicas.
Lawrence nasceu na cidade mineira de Eastwood, quarto filho de um mineiro semianalfabeto e de uma aristocrata que se tornou operária. Aos 16 anos, contraiu uma pneumonia que fragilizou para sempre a sua saúde, impedindo-o de trabalhar nas minas – o que o levou a engajar-se numa carreira literária. Aos 23, formou-se professor pela Universidade de Nottingham. No mesmo ano, seus poemas foram publicados na célebre English Review. Três anos depois veio a público o primeiro romance, O pavão branco.
Em 1912, começou a relação, que duraria até sua morte, com Frieda Weekley. Ela era casada e por isso a vida em comum com Lawrence começou com uma fuga para a Alemanha e depois para a Itália, onde o escritor completou o romance Filhos e amantes (1913), que aborda, de forma semiautobiográfica, a paixão de Lawrence pela mãe. Durante a Primeira Guerra Mundial, o casal foi perseguido por suposta simpatia pela Alemanha – em parte pelo pacifismo do escritor, em parte pela ascendência da esposa – e expulso do condado onde morava por suspeita de espionagem. O projeto seguinte se desdobrou em dois romances com as mesmas personagens centrais, O arco-íris (1915), banido durante três anos sob acusação de obscenidade, e Mulheres apaixonadas (1920).
Com o fim da guerra, Lawrence e a esposa partiram para a Itália e passaram os anos seguintes viajando pelo mundo, sem voltar para a Inglaterra. A temporada no México inspirou um romance ambicioso, considerado por muitos sua obra-prima, A serpente emplumada (1926). O último romance de Lawrence, O amante de Lady Chatterley, sobre a atração de uma aristocrata por um guarda-caças, saiu em edição privada em 1928 e só foi liberado para publicação regular em 1960 na Inglaterra, mediante processo judicial. Lawrence morreu de tuberculose em Vence, na França. Em sua curta vida, o escritor produziu ainda livros de viagem, ensaios sobre literatura e outros assuntos e peças de teatro.