‘― As portas da minha casa estarão sempre abertas para você ― anunciou a mulher com uma expressão profundamente séria, encarando a menina que se prostrava diante dela com um calorento ar de indiferença.
― Certo ― a menina retrucou, sem acreditar naquilo de verdade.
A garota tinha absoluta certeza de que a solidão seria, dali para frente, ainda mais tangível e dilacerante por ter convivido com pessoas que acreditavam piamente que a bondade ainda existia na sociedade atual, mesmo que estivessem forçados a lavar as mãos para a loucura que não causaram e que não tinham mais esperança de remediar. O problema é do mundo agora. A jovem menina, carente de amor, compreensão e dinheiro, é um problema do mundo agora. Que deus a ajudasse.’
(trecho do conto ‘Dependência de Empregada’)
Desvio nos apresenta os textos de fulô, pseudônimo da contista e poeta potiguar Rosy Nascimento, compilando material inédito produzido entre os anos de 2015 e 2018. Dedicado a todas aquelas que experimentam o sofrimento psíquico e escrito desde esse lugar de fala, Desvio também se dirige a pessoas que ‘valorizam os momentos de crise, já que essa condição não se escolhe’, nas palavras da autora.
Passeando pela prosa poética e a crítica social incisiva, a questão racial com recorte de gênero e a loucura, fulô experimenta em primeira e segunda pessoa, mesclando referências textuais em composição transgressora.
Despre autor
fulô, pseudônimo de Rosy Nascimento, escreve desde que se entende por gente, abordando, principalmente, a questão racial, os recortes de gênero e loucura. Publicou dois fanzines autorais lançados de forma independente: vômitos dos meus excessos (2016) e soul cactos (2017). Participa das antologias poéticas cidad Elas (2017) e blackout (2018). Potiguar, 22 anos, estuda audiovisual na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e divide o tempo entre escrever, declamar e produzir material em audiovisual voltado para a negritude.