Ela tinha dois dias quando sua mãe morreu. Seu pai a culpou pela morte de sua esposa e por ter a temeridade de nascer com total desrespeito pela saúde de sua progenitora. Seu irmão, influenciado pelo pai, desprezava-a também por privá-lo prematuramente de uma mãe.
A mãe tinha trinta e cinco anos quando morreu. Ninguém perguntou a Esther se ela sentia falta da mãe. Durante toda a sua vida, ela ansiara por ela, especialmente quando criança, quando foi entregue aos cuidados de uma tia sem filhos que era fria e espartana em seus modos. E essa educação enraizou-se na aparência esquelética da jovem Esther.
Quando completou doze anos, Esther foi considerada velha o suficiente para ser mandada de volta para a casa do pai, onde ela tinha que cozinhar, lavar e passar as roupas do pai e as roupas do irmão e se tornar uma Cinderela dos últimos dias. Pai e filho muitas vezes se divertiam na cidade e uma noite o pai trouxe para casa uma mulher que passou a noite em sua cama. Na manhã seguinte, quando Esther lançou-lhe um olhar furioso, ele disse: “Você é a causa disso”. Se eu tivesse minha própria esposa aqui – acrescentou ele, olhando-a com ar acusador -, não haveria necessidade de nada disso. Esther estava com medo de responder e, sem pestanejar antes de a mulher descer as escadas, ele ordenou que a filha servisse uma “boa” batata frita para ela. Mais tarde Esther viu o pai pela janela da sua carrinha entregando à mulher uma nota de cinquenta euros antes de levá-la de volta para onde quer que ela viesse.