Num poderoso clã de guerreiras ashantis, situado no coração da África Ocidental, sete irmãs são confrontadas com um desafio que parecia irrealizável. Se não fossem capazes de, juntas, cumprir a missão, todo o povoado onde viviam poderia ser afetado. Esta é uma história com ensinamentos atemporais sobre sabedoria ancestral e o poder da filosofia Ubuntu: ‘Eu sou porque nós somos’.
‘Abayomi: o reluzir dos encontros preciosos’ é um mergulho profundo na nossa ancestralidade e nos desperta para o poder da união.
A partir de uma linguagem envolvente para pessoas de todas as idades, o conto revela a conexão entre o antes, o agora e o depois.
Despre autor
Lívia Sant’Anna Vaz – Sou uma mulher negra e nordestina, nascida em Salvador (BA), conhecida como a cidade mais negra fora da África.
Já adolescente, lembro-me como se fosse hoje de quando meu pai me chamou no canto da sala, preocupado com meu futuro profissional. Eu, sua ‘doce rebelde’, que sempre tinha resposta pronta para tudo, comuniquei: ‘Quero ser jornalista!’. Ainda posso ver seu olhar e sentir o tom de sua voz: ‘Você já viu alguma jornalista negra na televisão?’. Se ainda não vemos muitas hoje, imagine naquela época. ‘Por que você não segue a carreira de jurista? Você sempre gostou tanto de debater, sempre se indignou com injustiças…’. Depois sorriu, lembrando-se das reuniões de família em que eu refutava cada um dos argumentos apresentados por minha mãe em determinados assuntos.
Seguindo a preciosa orientação ancestral que recebi, ingressei na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na qual, além de me graduar, cursei o mestrado em Direito Público. Ainda como acadêmica, tive a chance de estagiar no Ministério Público do Estado da Bahia quando decidi que queria ser promotora de justiça, cargo que ocupo desde 2004. Doutora em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), tenho me dedicado também à literatura como forma de compartilhar minhas vivências especialmente com meninas e mulheres negras, para que descubram a potência transformadora de suas vozes e de seus sonhos. Hoje, sinto que estou realizando justamente a missão que me foi entregue pela ancestralidade.
Chiara Ramos – Sou uma mulher negra, filha do amor de Cláudio e Carla, nascida e criada nos engenhos de cana-de-açúcar da Zona da Mata de Pernambuco. Filha de Iansã com Ogum, nasci destinada a guerrear pela justiça. Não por coincidência, decidi que seria advogada aos nove anos, mesmo sem nunca ter visto um advogado. Com essa mesma idade, encontrei no judô o passaporte para oportunidades de estudo através de bolsas, até conquistar minha tão sonhada vaga na Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Mesmo apaixonada pela vida acadêmica, as dificuldades financeiras me levaram a estudar para concursos públicos, ainda no nono período. Sem recursos para me matricular em cursinhos, desenvolvi uma metodologia própria de me preparar, que possibilitou minha aprovação em diversos exames, antes mesmo da conclusão da graduação. Hoje, essa metodologia auxilia diversas pessoas, sobretudo mulheres negras, a se aproximarem de seus sonhos de também ocuparem um cargo no sistema de justiça.
Realista esperançosa, a menina do engenho se tornou procuradora federal por convicção, professora por vocação e pesquisadora por inquietação. Doutoranda em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), em cotutoria com a Universidade de Roma (La Sapienza), e mestra em Direito pela UFPE, ocupei diversos cargos de direção e chefia na Advocacia-Geral da União (AGU). Mas, hoje, tenho certeza de que o papel mais importante que ocupo é o de abrir caminhos para que aquelas e aqueles que vieram depois de mim também possam realizar os seus sonhos, honrando nossas(os) ancestrais.