Fazia falta entre nós um volume como este, capaz de dar conta da problemática dos signos visuais ou audiovisuais em toda sua extensão, profundidade, e variabilidade, ao mesmo tempo em que passa em revista as principais correntes teóricas que examinaram isso que chamamos de representação por imagens.
No contexto das atividades práticas, críticas e acadêmicas, é muito comum ver como as imagens parecem resistir à análise e produzir toda sorte de discursos gaguejantes e desarticulados. Quem convive, como nós, em ambientes intelectuais que têm a imagem como matéria de investigação, já deve ter se acostumado à hegemonia daquilo que Lucien Sfez chamou, num outro contexto, de tautismo — contração de tautologia e autismo —, uma exótica modalidade retórica baseada no princípio do ‘repito, logo demonstro’. A dificuldade de submeter a imagem ao exame analítico e à investigação científica tem produzido, aliás, perigosas teorias sobre o inefável, ou sobre a suposta irredutibilidade das imagens ao discurso verbal, perigosas porque, em geral, servem de justificativa à letargia e à preguiça mental.
Este livro de Santaella e Nöth chega no momento certo, para lançar um pouco de luz no terreno movediço das chamadas comunicações visuais. Ele reúne um conjunto de reflexões que funciona, ao mesmo tempo, como fundamentação teórica e instrumental analítico para uma abordagem séria das imagens, além de oferecer também todas as luzes necessárias para permitir discriminar entre as várias acepções, categorias e estados dos signos visuais. Claramente fundamentado nas ideias de Charles S. Peirce, o que lhe garante uma sistematização e uma coerência teórica raramente encontradas na bibliografia pertinente ao assunto, o livro abre-se também para a discussão de problemas filosóficos relevantes no plano do pensamento contemporâneo, como as questões da verdade, das representações internas (mentais), da mediação tecnológica, da intervenção das mídias na cultura atual, ou das intrincadas relações entre imagem e linguagem verbal.
Agora, ninguém mais vai poder justificar atitudes de estupefação ou de impotência teórica diante de uma imagem, menos ainda repetir chavões surrados sobre uma suposta esterilidade conceitual da ‘civilização das imagens’. Imagem: cognição, semiótica, mídia é a melhor demonstração de como pode ser eloquente esse fenômeno aparentemente inefável a que chamamos imagem.
Arlindo Machado
Cuprins
APRESENTAÇÃO11
INTRODUÇÃO13
IMAGEM COMO REPRESENTAÇÃO VISUAL E MENTAL15
1. Representação e signo15
1.1. Representação como signo16
1.2. Representação como relação sígnica17
1.3. Representação como referência e função de apresentação18
1.4. Representação como signo icônico19
2. Representação, re-presentação e apresentação20
2.1. Representação como re-presentação20
2.2. Existem signos que não representam nada?21
2.3. A teoria da representação de Goodman21
3. A crise da representação22
3.1. Foucault sobre a origem e a perda da representação23
3.1.1. A perda da iconicidade da re-presentação após a Renascença23
3.1.2. O modelo clássico de representação24
3.1.3. A perda da representação a partir do século XIX25
3.2. A desconstrução da re-presentação de Derrida26
4. Imagem e representação mental27
4.1. Formas e modelos da representação mental27
4.2. Modelos da imagem mental28
4.2.1. Imagens como ideias, ideias como imagens29
4.2.2. Ideias como cópias da realidade29
4.3. A teoria marxista do pensamento como cópia30
4.4. A teoria imagética da significação de Wittgenstein31
4.5. Modelos da psicologia cognitiva31
4.5.1. A imagem interior de Piaget32
4.5.2. Imagens mentais nas ciências da cognição33
SEMIÓTICA DA IMAGEM35
1. Semiótica e a ciência da imagem35
1.1. Algumas ciências da imagem35
1.2. Literatura sobre a semiótica da imagem36
1.3. Direcionamentos e tendências da semiótica da imagem36
1.4. Temas individuais da semiótica da imagem37
2. A imagem como signo38
2.1. A imagem entre representação e imaginação38
2.2. A imagem como signo icônico e plástico39
2.2.1. Imagens como signos icônicos40
2.2.2. Imagens como signos plásticos41
3. Naturalidade e convencionalidade das imagens41
3.1. A teoria de Gibson sobre a iconicidade da imagem41
3.2. A teoria de Goodman sobre a convencionalidade da imagem42
3.3. Gombrich sobre a imagem entre natureza e convenção44
4. A dependência linguística e a autonomia cognitiva da imagem45
4.1. A visão logocêntrica sobre a dependência linguística da imagem45
4.2. Imagem vs. linguagem: diferenças específicas46
4.3. Argumentos do gestaltismo a favor da autonomia da imagem47
4.4. A autonomia da imagem como invariância cognitiva do visual48
4.5. A interpretação ecológica da imagem de Gibson49
4.6. A autonomia da imagem na teoria da informação e na semiótica geral50
5. Existe uma gramática da imagem?50
5.1. A semiótica da imagem no signo do linguocentrismo51
5.2. Há um segundo plano de articulação da imagem?51
5.2.1. O primeiro plano de articulação da imagem52
5.2.2. A sintaxe dos constituintes da imagem53
5.2.3. A gramática da imagem como gramática do texto54
IMAGEM, TEXTO E CONTEXTO55
1. Sobre a abertura da imagem a interpretações verbais55
2. Relações entre imagem e texto56
2.1. Redundância, informatividade, complementaridade56
2.2. Relações de referência indexicais57
2.3. Relações no plano de expressão58
3. Palavra e imagem na pintura59
4. Contextos imagem-imagem59
PALAVRA E IMAGEM61
1. Os níveis e subníveis da iconicidade61
1.1. Ícone puro62
1.2. Ícone atual62
1.2.1. Aspecto passivo63
1.2.2. Aspecto ativo63
1.3. Hipoícones64
2. O símbolo como síntese65
3. Imagens verbais e mentais68
4. A imagem da palavra70
5. Entre a palavra e a imagem72
IMAGEM, PERCEPÇÃO E TEMPO75
1. O tempo intrínseco: dispositivo, fatura e estilo78
1.1. O dispositivo78
1.1.1. As imagens fixas78
1.1.2. Cinema e ilusão do movimento79
1.1.3. Videografia e movimento real79
1.1.4. Infografia e o movimento na dimensão do tempo80
1.2. A fatura81
1.2.1. O tempo do gesto81
1.2.2. O instante do corte82
1.2.3. O rastro dos fotogramas82
1.2.4. Os cortes no continuum83
1.2.5. O tempo interativo83
1.3. O estilo83
Continua…
Despre autor
Maria Lucia Santaella Braga (Catanduva, 13 de agosto de 1944) é uma das principais divulgadoras da semiótica e do pensamento de Charles Peirce no Brasil, contando com mais de quarenta livros publicados. Professora titular da PUC-SP com doutoramento em Teoria Literária na PUC-SP (1973), e livre-docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP, (1993). É fundadora do ‘CSGames TIDD’, Grupo de Pesquisa em Computação, Semiótica e Games do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital PUC-SP.
Winfried Nöth (nascido em 12 de setembro de 1944 em Gerolzhofen) é um linguista e semiólogo alemão.
Depois de se formar no ensino médio em 1963 em Brunswick, Nöth estudou de 1965 a 1969 em Münster, Genebra, Lisboa e Bochum os idiomas Inglês, Francês e Português e em 1971 adquiriu seu doutorado na Universidade Ruhr de Bochum. Em Bochum ele também se tornou assistente do semiólogo Walter A. Koch. Depois de lecionar em Bochum e Aachen, em 1978, foi nomeado professor titular de Linguística Inglesa na Universidade de Kassel.
Em 1985, Nöth foi professor visitante na Universidade de Wisconsin-Green Bay, em Green Bay, Estados Unidos, e em 1994, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Brasil. Desde 1999, é diretor do Centro Científico de Pesquisa Cultural da Universidade de Kassel e presidente da Sociedade Alemã de Semiótica. Seu Manual de Semiótica (primeira vez em 1985) oferece uma visão abrangente da história e várias orientações da semiótica, descrevendo as ideia dos semióticos mais importantes.