Ruy Duarte de Carvalho, poeta e antropólogo angolano, passou longos períodos no Sul do país, no território kuvale, povoado de pastores nômades que lidam com gado e leite, e aprendeu com eles não só seus hábitos da terra, mas também suas tradições, rituais e cantos.
O escritor, então, registrou e traduziu de forma bem singular essas manifestações orais, compondo poemas em língua portuguesa. Antes disso, já tinha feito o mesmo com diversos testemunhos orais de outros povos e etnias pela África afora, colhendo matéria oral ou pesquisando e traduzindo poeticamente textos recolhidos por outros antropólogos e poetas ao longo dos séculos XIX e XX.
O resultado dessas imersões criativas de Ruy Duarte de Carvalho pode ser visto nos já clássicos da literatura angolana Ondula, savana branca, de 1982, e Observação directa, de 2000, livros que agora se encontram pela primeira vez reunidos nesta edição brasileira. Reunião riquíssima, um baú aberto de legados e heranças da cultura oral que não folcloriza a África, pelo contrário, altera o que se entende por poesia em língua portuguesa, já que não é a língua do colonizador a formatar tais tradições orais, e, sim, ela que é transformada para receber essa pulsante matéria de vida.
A presente edição conta com um texto de orelha de Rita Chaves e um posfácio de Prisca Agustoni, ambas pesquisadoras da poesia africana em língua portuguesa.
Despre autor
Nasceu em Santarém, Portugal, em 1941, e faleceu na Namíbia, em 2010. Mudou-se jovem para Angola, onde mais tarde participou na luta pela libertação do país, tendo se tornado angolano a partir da independência em 1975. Cineasta, antropólogo e autor de diversos livros que mesclam ficção, poesia e etnografia, é considerado um dos nomes mais importantes da literatura angolana.