Matia, uma menina alta para seus quatorze anos, passa as férias com o primo Borja, de quinze, na casa da avó, uma mulher rígida de classe alta que é uma autoridade na ilha onde mora. Sua mãe morreu há quatro anos, ela não sabe do paradeiro do pai, e traz consigo seu inseparável boneco de pano Gorogó, que a aconchega nos momentos de tristeza. A guerra eclode, uma guerra cujas notícias demoram para chegar e são sempre inexatas. ‘Uma guerra que parecia fantasmal, longínqua e próxima ao mesmo tempo, quem sabe mais temida porque era invisível.’
Pelo olhar singular de Matia, vão se descortinando realidades e descobertas que ela não compreende bem. Sua relação de amor e ódio com o malandro, intrépido e por vezes perverso primo. Seus sentimentos em relação a Manuel, filho mais velho de uma família marginalizada e hostilizada na ilha, um menino de dezesseis anos cujo pai foi assassinado e com quem gosta de ficar de mãos dadas. As palavras que ouve sobre seu pai, que combate na trincheira oposta à da avó. O cotidiano de aulas com o submisso jovem Lauro, os cigarros surrupiados da tia Emília, as histórias que cercam o lendário Jorge de Son Major, as guerras com os outros meninos, suas guerras internas, a guerra na Espanha.
Nesta obra-prima de Ana María Matute, que figura entre os escritores mais importantes da Espanha do pós-guerra, Matia envereda pelos tortuosos e doloridos caminhos da difícil fase da vida em que a casca da infância se rompe e a adolescência explode. ‘Que estranha raça a dos adultos, a dos homens e das mulheres. Que estranhos e absurdos, nós. Que fora de tempo e lugar. Já não éramos crianças. De repente, já não sabíamos o que éramos.’
Об авторе
Ana María Matute nasceu em Barcelona, em 1925. A Guerra Civil Espanhola, que eclodiu em 1936, quando tinha 11 anos, marcou de maneira determinante sua vida e obra. Foi dos expoentes dos chamados ‘niños assombrados’, geração que enfrentou a guerra entre a infância e adolescência, fase tão crucial de formação. Iniciou sua carreira como romancista no final da década de 1940, firmando-se como uma das vozes literárias mais relevantes do pós-guerra espanhol. É autora de Los Abel (1948), Pequeño teatro (1954, Prêmio Planeta), El Río (1973), Olvidado Rey Gudú (1996) e Paraíso Inhabitado (2008), seu último romance. Com Primera memória ganhou em 1959 o prestigioso Prêmio Nadal.
Autora fundamental, Ana María Matute foi laureada com o Prêmio Cervantes em 2010, o mais importante prêmio literário de língua espanhola. Morreu em 2014, em Barcelona.