Presa a uma rotina de trabalho no ateliê parisiense do marido alfaiate e aos cuidados dos filhos, após uma estadia de pouco mais de um mês na casa do pai, onde testemunha e experimenta os prazeres e luxos da alta burguesia emergente, a senhora Montjean se revolta: não quer mais trabalhar nem cuidar da prole e se lança numa vida vertiginosa. Com muito ruge nas bochechas, passa os dias entre passeios pelos parques e bulevares de Paris, almoços e jantares regados a muita bebida e jogos sexualizados com novos amigos – para desespero do marido, que vê a reputação da família se arruinar, assim como o seu patrimônio. É por meio do diário de um marido perplexo que acompanhamos em detalhes a reviravolta dessa mulher tomada por um irrefreável desejo de emancipação e de ascensão social, seduzida pela vida libertina da aristocracia da época.
Nas mãos de Arlette Farge, uma das historiadoras de maior prestígio da atualidade, a saga do casal se transforma em um caleidoscópio através do qual vemos de perto a sociedade urbana francesa de fins do século XVIII, suas relações e mentalidades, que são o prelúdio da Revolução Francesa.
‘Por intermédio do que acontece, com grande quantidade de detalhes, se perfilam simultaneamente a intimidade de um casal e, também, a maneira como as classes sociais vivem o seu destino, seja rejeitando-o, procurando dele se afastar, seja aceitando-o por mil razões.’ – Arlette Farge
Об авторе
ARLETTE FARGE é historiadora francesa, professora e pesquisadora da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), especialista em história social e das mentalidades do século XVIII. Entre seus trabalhos mais destacados estão o levantamento dos arquivos da polícia depositados na Bastilha feito junto a Michel Foucault, que resultou na edição de Le Désordre des familles, em 1982, e estudos sobre as classes populares e as relações de gênero no século das Luzes. Coordenou o volume abrangendo o período entre os séculos XVI e XVIII da coleção História das mulheres no Ocidente. Tem cerca de trinta livros publicados, entre eles O sabor do arquivo (Edusp, 2009). Ao longo de sua carreira, recebeu importantes prêmios, como o Dan David (2016), pelo conjunto de sua obra e inovação.