O Brasil completava 150 anos de sua Independência sob o peso de uma ditadura civil-militar que promovia as comemorações com discursos patrióticos conservadores e ufanistas. Isso era 1972. Qualquer semelhança com o discurso oficial que ronda as comemorações do bicentenário, agora em 2022, não é mera coincidência. 1822: Dimensões trazia naquele momento um jorro de discernimento e arrojo ao trazer a público uma visão crítica e muito mais ampla dos processos históricos que resultaram na declaração da Independência e suas amarras. A republicação do livro no bicentenário nos faz lembrar que um país se constrói com o debate franco, direto, extenso. E bem fundamentado. QUARTA-CAPA Esta edição homenageia os cinquenta anos da obra que foi um marco da historiografia brasileira ao adotar como perspectiva não fazer a mera louvação da efeméride que lhe deu origem – as comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil –, mas, pelo contrário, problematizar esse evento, contextualizá-lo, fazer a crítica de sua interpretação. Os autores eram jovens, as comemorações eram espontâneas como uma ordem unida, e o momento político trazia a paz dos cemitérios. O livro em si se tornou, como diz o historiador Francisco Alambert em seu prefácio, um acontecimento. E eis que hoje, meio século depois, não apenas sua importância acadêmica permanece, como a discussão que instaura se mostra mais fundamental do que nunca. Assim, além de permitir ao público (re)encontrar textos hoje clássicos, o que esta edição propõe a leitores e pesquisadores é o desafio de ressignificar as comemorações do Bicentenário da Independência, interpretando o passado e o presente com uma atitude crítica e uma postura ativa diante de (re)visões nacionalistas autoritárias e estreitas, pois amar um país vai muito além de usar as cores da bandeira e palavras de ordem.
Om författaren
É mestre e doutor em História Moderna e Contemporânea e livre-docente pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo-FFLCH-USP (1967 e 1970, respectivamente) e professor emérito da mesma universidade. Foi professor titular na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi consultor e professor visitante nas universidades de Salamanca, de Londres, do Texas e na Escola de Altos Estudos de Paris; presidente do Comitê Científico da Universidade Presbiteriana Mackenzie; fundador e ex-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP; e ex-professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas – IFCH-Unicamp. Membro do conselho editorial da Revista Estudos Avançados (IEA-USP), escreveu várias obras, dentre elas História e Contra-História: Perfis e Contrapontos (Globo); A Ideia de Revolução no Brasil e Outras Ideias (Globo); Ideologia da Cultura Brasileira, 1933-1974 (Editora 34), História do Brasil: Uma Interpretação (Senac, com Adriana Lopez), Nordeste 1817: Estruturas e Argumentos (Perspectiva / Edições Sesc) e coordenou Viagem Incompleta: A Experiência Brasileira, 1500-2000 (Senac, 2 volumes); e Brasil em Perspectiva (Difel).