O clássico que fundou a segunda onda do feminismo retorna em edição comemorativa, com textos inéditos
A mística feminina investiga como foi construída e mantida a norma social que defina mulher a partir de uma existência frívola, consumista, devotada ao lar, ao marido e aos filhos, à qual estaria fadada. Publicado originalmente em 1963 nos Estados Unidos e em 1971 no Brasil, o livro retorna às livrarias em sua edição comemorativa de 50 anos, com textos inéditos da autora, Betty Friedan.
Nesta obra pioneira, a partir de entrevistas, questionários e vasta bibliografia, Friedan identificou um sintoma social que denominou ’problema sem nome’. Um vazio existencial que afetava mulheres heterossexuais brancas estadunidenses, moradoras de subúrbios de classe média, que não podia ser suprido por um casamento perfeito, pelo alto padrão de vida ou por filhos e que elevou os índices de alcoolismo e transtornos mentais nos Estados Unidos após a Segunda Guerra.
Manipuladas pela sociedade de consumo, essas mulheres deixaram o ideal de comportamento libertário das sufragistas, em voga até os anos 1930, e passaram a incorporar um imaginário sobre o ’feminino’ projetado por homens brancos que haviam voltado da guerra fantasiando padrões de gênero sexistas. Aos homens, os provedores, era destinada a descoberta de mundos concretos e intelectuais. Às mulheres, as cuidadoras – mães e esposas donas de casa –, a interioridade oca do lar.
Criticado por algumas pessoas e louvado por outras, A mística feminina é um livro essencial para compreender a história de opressão e libertação das mulheres, porque revela os mecanismos de controle de gênero, afirmando o que nem sempre é óbvio em uma sociedade machista: as mulheres são seres humanos complexos, cada uma com desejos particulares, e capazes de gerir sozinhas a própria vida.
Om författaren
Betty Friedan (1921-2006) foi psicóloga, jornalista e ativista estadunidense, cofundadora da Organização Nacional para as Mulheres (NOW) e uma das primeiras líderes do movimento pelos direitos das mulheres nas décadas de 1960 e 1970. Ajudou a fundar associações pró-escolha e foi cofundadora do Núcleo Político Nacional da Mulher, ao lado da feminista Gloria Steinem. Por meio dessas organizações, Friedan teve grande influência na mudança de leis ultrapassadas, como práticas sexistas de contratação, desigualdade salarial de gênero e discriminação na gravidez.