Vida de Henry Brulard é o relato da infância e da adolescência de Stendhal, um dos maiores escritores franceses, no ambiente repressivo de uma família burguesa no final do século XVIII. A narrativa se estende até a época em que o jovem deixa Grenoble e faz a descoberta da Itália, para ele um acontecimento extasiante e que o marcaria pelo resto de sua vida. O autor começou a escrever estas memórias quando já tinha cerca de 50 anos e estava justamente na Itália. O período vivido em Grenoble é narrado com muitos detalhes, mas também com uma grande dose de imaginação. Escrevendo com emoção e sinceridade, indignação e clareza, o autor acaba por fazer o retrato de um coração rebelde. A mãe, que morreu quando ele tinha 7 anos; o pai, voltado apenas para suas próprias ambições sociais; a tia, que parecia ser dedicada somente a crueldades; o avô, de quem se aproxima – esses são alguns dos muitos personagens da narrativa, que também se ocupa de acontecimentos políticos e históricos tal como percebidos pelo jovem Stendhal. Na busca da reconstituição do que considerava importante para seu relato, o autor valeu-se também do desenho, esboços para registrar cômodos das casas, seus móveis, ruas, construções, elementos da paisagem próxima e assim por diante. O texto permaneceu inacabado, não chegou a adquirir uma forma final, guardando características de um primeiro impulso de escrita, com toda sua espontaneidade. E só foi publicado muito tempo após a morte do ator. Vida de Henry Brulard é colocado por muitos entre as obras-primas de Stendhal, que aqui se apresenta como um personagem melancólico, inteligente, irônico, radical e aristocrático, tal como alguns dos jovens heróis de seus romances.
Om författaren
Stendhal – Seu verdadeiro nome era Henri-Marie Beyle, foi um escritor francês nascido em Grenoble em 1783 e falecido em Paris em 1842. Quando jovem, acompanhou o exército napoleônico, em funções administrativas, nas campanhas da Alemanha, Rússia, Áustria e Itália. Viveu a maior parte de sua vida adulta na Itália, apaixonado pela cultura e pela vida no país. É um dos maiores escritores não só da língua francesa, mas de toda a literatura, estando ao lado de autores como Flaubert e Balzac. Suas obras mais conhecidas, suas obras-primas, são os romances O vermelho e o negro (1830) e A cartuxa de Parma (1839). Entre suas outras obras de ficção, estão Crônicas italianas (1837) e Lucien Leuwen (1894, póstumo). Publicou também relatos de viagem, como Roma, Nápoles e Florença (1817), além de obras sobre música, como Vidas de Haydn, Mozart e Metastasio (1815), sobre artes plásticas, como História da pintura na Itália (1817), e sobre literatura, como Racine e Shakespeare (1823).