Ao contrário do que se diz, o deserto é um território fértil. Ao menos para Bahiyyih Nakhjavani, que, a partir de uma trama complexa, faz convergir nas areias árabes um grupo de personagens que têm suas trajetórias costuradas por um misterioso alforje. Uma noiva que viaja para encontrar o futuro marido, um padre em peregrinação, um beduíno de alma livre e uma escrava falacha são alguns dos retratos que a autora pinta com maestria e profundidade. Ainda que tenham origens, crenças e desejos muito diferentes, todos os viajantes terão a vida transformada pelas escrituras sagradas.
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Autora integrante da diáspora iraniana, Bahiyyih Nakhjavani exerce importante papel decifrando assimilações e experiências das comunidades exiladas por meio de seus livros. Nascida no Irã, mas criada fora do país, foi professora e atualmente escreve ensaios e romances. Sua obra é inspirada na cultura, história e personalidade iranianas, o que demonstra engajamento com as questões de sua terra natal.
A autora também passou pelos Estados Unidos, Chipre, França e Uganda, país da sua primeira infância e escolhido por seus pais para professar a fé Baha’i, uma religião de princípios islâmicos que na época crescia no mundo. A escritora manifesta essa religiosidade, herança dos avós, até hoje.
Para ela, foi excitante perceber que os conceitos de relatividade, continuidade e da natureza progressiva da verdade religiosa, pilares da filosofia Baha’i, encontravam-se em seu primeiro romance, que viria a se tornar um best-seller internacional, com o qual Nakhjavani conquistou a atenção da crítica mundial e foi publicado em diversos idiomas. Esse romance se intitula O alforje, originalmente escrito em inglês, cuja tradução em português chega ao Brasil pela primeira vez.
Escrita com uma linguagem sensorial e poética, a obra de Nakhjavani apresenta diversas referências, sendo duas constantemente lembradas pela crítica literária. Uma delas é o livro Os contos de Cantuária, escrito no século 14 por Geoffrey Chaucer e uma das obras responsáveis pela consolidação do inglês como língua literária, composto por um conjunto de histórias em prosa e verso narradas por diferentes personagens de um mesmo grupo de peregrinos. Outra inspiração foi The Dawn-Breakers, livro que reconta as origens da fé Baha’i, cujo sétimo capítulo contém uma breve passagem na qual um alforje é roubado de Báb, fundador do babismo e um dos últimos profetas, segundo a religião Bahá’i.
A obra de Nakhjavani é um respiro de lucidez que enfrenta corajosamente a teocracia de seu país e os nacionalismos que surgem, gradual e lamentavelmente, em diversos cantos do planeta. Iraniana, imigrante e cidadã do mundo, Bahiyyih Nakhjavani entende o quão problemática pode ser a criação de fronteiras na sociedade contemporânea e globalizada.