É sabido o papel de Carlos Heitor Cony nos dias atormentados que o país viveu e continua a viver. Muitos e variados riscos foram enfrentados, para que lhe fosse possível comportar-se como homem e como escritor. Cony honrou os dois títulos. A crônica final e a carta que se segue mostram o preço que lhe custou esse comportamento e são ainda um retrato da realidade brasileira. Um retrato triste, sem dúvida. Mas o que nos importa é que esse cronista admirável tenha sido, como foi, de forma extraordinária — um momento da consciência humana.
– Nelson Werneck SodréFoi num ambiente de pânico e confusão, de vilanias, de sadismo, de boçalidade que um jornal — o Correio da Manhã — começou a erguer no Rio de Janeiro, com a força de seu prestígio, uma primeira e corajosa linha de defesa da democracia ofendida e humilhada pelas pérfidas manobras dos inimigos da emancipação nacional.A firmeza com que Niomar Moniz Sodré Bittencourt conseguiu, sob ameaças e perigos reais, manter essa brilhante campanha merecerá, um dia, a devida atenção e o emocionado respeito dos cronistas desta fase de nossa História. Das páginas vibrantes do Correio da Manhã saía um alento de liberdade que entusiasmava e soerguia, do lodo e da abjeção, todo um povo envergonhado e cabisbaixo. Otto Maria Carpeaux, Márcio Moreira Alves, Hermano Alves, Antonio Callado, Edmundo Moniz foram soldados que não se retraíram diante do perigo e deram forma e substância a essa contraofensiva tão digna quanto solitária. Nenhum outro jornal, em todo o Brasil, teve a coragem de seguir o exemplo do Correio da Manhã.Mas um jornalista do Correio, mais do que qualquer outro, se transformou no panfletário que a hora exigia e a nação esperava para lavar a face e levantar a cabeça. Seu nome, hoje conhecido em todo o Brasil: Carlos Heitor Cony.
เกี่ยวกับผู้แต่ง
CARLOS HEITOR CONY nasceu no Rio de Janeiro em 1926. Estreou na literatura ganhando por duas vezes consecutivas o Prêmio Manuel Antônio de Almeida, com os romances A verdade de cada dia e Tijolo de segurança. Considerado um dos maiores expoentes do romance neorrealista brasileiro, Cony também se dedicou com sucesso a outros gêneros: da crônica aos ensaios, das adaptações de clássicos aos contos. Trabalhou na imprensa a partir de 1952, ano em que entrou no Jornal do Brasil. Mais tarde foi para o Correio da Manhã, do qual foi redator, cronista e editor. Era colunista da Folha de S.Paulo e comentarista da rádio CBN quando faleceu, no início de 2018. Ganhou em quatro ocasiões o Prêmio Jabuti na categoria Romance, duas vezes o Prêmio Livro do Ano da Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio Nacional Nestlé de Literatura. Em 1998, foi condecorado pelo governo francês com a L’Ordre des Arts et des Lettres. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em março de 2000.