Neste livro, Paula Braga divide com os leitores o prazer de circular pelo universo da arte contemporânea — um imenso prazer, a julgar pelos dezenove capítulos que você tem em mãos. Os ‘modos de usar’ elencados pela autora passam muito longe dos estereótipos sobre galerias e vernissages: ambientes exclusivos frequentados por gente fina, elegante e sincera, disposta a desembolsar cifras escandalosas em obras destinadas à fruição de um círculo reduzido de entendedores. Cenas como essa não encontram lugar por aqui. Tampouco há dicas para bem avaliar ou investir em esculturas, nem curiosidades sobre a excêntrica genialidade de artistas aclamados. Paula Braga não perde tempo com egos, fofocas ou picuinhas. Ao analisar trabalhos de criadores consagrados como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Carlos Zílio e Beatriz Milhazes, além de nomes menos conhecidos do grande público, ela quer discutir as formas pelas quais a arte afeta e é afetada pela realidade. Dá pra saber que seus escritos passarão longe da espiral de vaidade que acompanha o mundo das exposições logo na epígrafe, emprestada do francês Robert Filliou: ‘Arte é aquilo que faz a vida ser mais interessante que a arte’. Nessa perspectiva, consegue abordar, de maneira acessível e instigante, um assunto normalmente restrito a patotas impenetráveis. Conforme avançamos na leitura, percebemos que a autora fez bem ao abandonar uma carreira promissora como analista de sistemas para se dedicar à estética — e tudo depois de ter se encantado com uma pintura de Lasar Segall na casa de um amigo. Esse mesmo brilho nos olhos, capaz de mudar vidas, escorre entre as vírgulas e os pontos finais de Arte contemporânea: modos de usar. Cada capítulo tem dois momentos: primeiro surge uma crônica, na qual Paula Braga liberta sua prosa instigante e despojada, flertando com a autoficção; depois, e em diálogo com o texto que o antecede, deparamos com um ensaio crítico, mais acadêmico, porém nada sisudo. A combinação de estilos segura a mão da gente em um rolê aleatório pelo labirinto da arte contemporânea, sem fio condutor. A proposta é se deixar levar por uma autora que enxerga a arte como caminho para a investigação existencial, a produção de pensamento e a formação de subjetividades desviantes da norma, sem deixar de pontuar as mazelas do neoliberalismo e a desintegração do tecido social brasileiro nestes tempos distópicos. Bom passeio, e fique à vontade para tocar e fotografar.
เกี่ยวกับผู้แต่ง
Paula Braga era analista de sistemas, formada em ciência da computação pela Universidade de São Paulo (USP), quando, de repente, viu a pintura do Lasar Segall da casa do Zeca. Parou tudo, formou-se em artes visuais pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC) e concluiu o mestrado em história da arte, também na UIUC. Voltando ao Brasil, fez doutorado em filosofia na USP e pós-doutorado em teoria da arte na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Hoje, é professora de estética no curso de filosofia da Universidade Federal do ABC (UFABC). É autora do livro Hélio Oiticica, singularidade, multiplicidade (Perspectiva, 2013) e organizadora da coletânea Fios soltos: a arte de Hélio Oiticica (Perspectiva, 2008), além de assinar vários artigos para revistas, catálogos de exposições e capítulos de livros, dentre os quais ‘Anos 60: descobrir o corpo’, publicado em Sobre a arte brasileira (WMF Martins Fontes, 2015).