Disseminada pelo mundo naquele início de século XX e fundamental para o sucesso de ideias que resultaram em capítulos que estão entre os mais vergonhosos de nossa história, o relincho de que alguns seres humanos são superiores a outros está no centro do que se passa num sanatório a poucos quilômetros de Buenos Aires. Se homens de boa formação desejam sanar suas dúvidas científicas, qual é o problema de guilhotinar cabeças daqueles que julgam não ter o mesmo direito à vida?
Há muitos pontos que podemos discutir a partir deste romance de Roque Larraquy. A eugenia é um dos aspectos mais evidentes, porém traços como o patriotismo que cega e serve de pretexto para atrocidades e o preconceito aos negros e indígenas, perseguidos não só na Argentina, mas por todos os cantos da América Latina, também estão presentes. Num corte temporal inesperado, o debate sobre os limites éticos da arte se apresenta.
Comemadre tem traços caros ao que há de melhor na literatura argentina contemporânea: o horror, o absurdo, o bizarro, os toques de um humor nada óbvio… E, claro, a acidez, a capacidade de incomodar. ‘A classe média salva a Argentina. Seu triunfo será no mundo todo’, lemos em uma das epígrafes. O sarcasmo é outra virtude a ser enaltecida.
Rodrigo Casarin
เกี่ยวกับผู้แต่ง
Roque Larraquy (Buenos Aires, 1975). Escritor, roteirista e professor de narrativa literária e audiovisual. É autor das novelas La comemadre e Informe sobre ectoplasma animal, traduzidas para o inglês, francês, italiano, árabe, russo e grego, e de La telepatía nacional, sua mais recente publicação. Desde 2016, é diretor da Licenciatura en Artes de la Escritura de la Universidad Nacional de las Artes. Comemadre é sua estreia no Brasil e em língua portuguesa.