Discute-se, ainda nos dias de hoje, se caberia ao psicanalista ocupar-se de um bebê ou dos laços primordiais em construção. Ou, ainda, se ao realizar uma intervenção nesse campo, se trataria de uma intervenção psicanalítica, já que a prática clínica se dará inevitavelmente fora do setting habitual.
O que define a psicanálise, todavia, não é a repetição engessada de um setting, mas, sim, a capacidade criativa daquele que tem a subjetividade e os processos inconscientes de pensamento como elementos fundamentais para a compreensão dos fenômenos humanos, na busca de construir settings que possibilitem seu trabalho, de forma a respeitar a peculiaridade do sofrimento humano, na ética e na lógica, da linguagem e do desejo, a partir dos processos inconscientes assim determinados. A clínica psicanalítica no laço mãe-bebê, historicamente nova, que não se encaixa nos enquadres clássicos sugeridos por Sigmund Freud, por sua vez, tem mostrado sua importância em relação a sofrimentos de toda ordem, que podem atravessar o enlaçamento primordial e a vida subjetiva de um bebê. Mais do que isso, tem mostrado sua contribuição para a construção da parentalidade por parte de seus cuidadores, o que – sabemos – exige intensa transformação e elaboração inconsciente a partir das suas vivências primordiais e transgeracionais que farão desse
bebê o herdeiro legítimo de uma saga familiar, simbólica e cultural.
เกี่ยวกับผู้แต่ง
Silvana Rabello foi psicanalista, mestre em Distúrbios da Comunicação e doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP). Assistente doutor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Coordenou o curso de pós-graduação lato sensu em Teoria Psicanalítica. Pesquisadora com ênfase em Psicopatologias Graves da Infância e as questões que envolvem a constituição da subjetividade, atuou principalmente nos seguintes temas: autismo e psicose infantil, clínica psicanalítica, constituição do sujeito e detecção precoce de psicopatologias graves. Fez parte da equipe da Clínica Interdisciplinar Prof. Dr. Mauro Spinelli. Coordenou a Área da Saúde Mental da Criança e do Adolescente do Projeto Rede Sampa: saúde mental paulistana, com a Secretaria da Saúde do Município de São Paulo e a Escola Municipal de Saúde. Faleceu em setembro de 2017.
Marina Bialer é psicanalista, doutora em Psicologia pela USP e doutora em Psicanálise pela Université Paris 7 Denis Diderot. Atualmente realiza seu pós-doutorado no Departamento de Psicologia Experimental da USP.