A obra em prosa de Luigi Pirandello (1867-1936), sobretudo sua novelística, é permeada pela presença de um rico e variado mundo animal. O autor, como um agudo observador de sua época, reconhece a importância dos animais na cultura e no desenvolvimento da civilização. Espelhos naturais dos humanos, capazes de sofrer e entender esse sofrimento, agentes do acaso e da impassibilidade da natureza, os animais inserem-se perfeitamente em sua poética. Em Pirandello, o animal é um personagem que age e se comporta como um personagem de Pirandello, mas, ao contrário do personagem humano, mostra a sua própria face, sem disfarces, sem meios termos e sem máscaras. O texto que aqui se apresenta, Pirandello e a máscara animal, é fruto dos longos estudos de Francisco Degani, um leitor atento, sagaz, com conhecimento profundo das finas nuanças da teoria sobre o humorismo do escritor siciliano, imprescindível para sua leitura original e inovadora sobre a obra do autor, ora presenteada ao leitor brasileiro. Degani examina minuciosamente como o animal se apresenta na obra pirandelliana. Não o animal como metáfora do homem e de seus tantos trejeitos bestializados e vis, não o bicho tão rebaixado pela nossa visão que costuma desrespeitá-lo e retratá-lo como fera, sinônimo de nossos próprios vícios e maldades, mas simplesmente os animais: cavalos, cães, asnos e até moscas vistos e representados em sua dignidade natural de seres que habitam esse mundo e parecem ter muito a nos ensinar. Com divisão em vários subtemas, que organiza a avaliação crítica das novelas, Degani — que traduziu todos os textos analisados — nos cativa com sua escrita leve e, frequentemente, irônica (bem ao gosto do humorismo pirandelliano), a ponto de nos dar a sensação de que há um contador de histórias contando histórias sobre um famoso escritor siciliano. O leitor não deve se enganar, porém, pois essa escrita leve traz a aplicação cirúrgica da teoria do humorismo na avaliação da obra ficcional de Pirandello, bem como citações essenciais, frutos das inúmeras leituras críticas que auxiliaram na construção da proposta. Degani tem o mérito de realizar a apresentação da obra ficcional do autor — romances e novelas — sempre em diálogo com sua produção crítica. Desse modo, o pesquisador traz ao leitor brasileiro reflexões enriquecedoras que fornecem dados fundamentais sobre o pensamento desse clássico moderno, destinado a figurar na história da grande literatura mundial naquele ‘espaço duradouro / dos que este tempo chamarão antigo’ (ALIGHIERI, D., Paraíso, canto XVII, v.118-9, 1998, p. 125).
Yazar hakkında
Francisco Degani é doutor em literatura italiana pela Universidade de São Paulo, graduado em língua literatura e cultura italianas pelo Consórcio ICON, com sede na Universidade de Pisa, e tradutor, entre outros, de O falecido Mattia Pascal, de Luigi Pirandello (Nova Alexandria/Abril), Não incentivem o romance, de Alfonso Berardinelli (Nova Alexandria/Humanitas), vencedor do prêmio Paulo Rónai de tradução, de 2012, da Fundação Biblioteca Nacional, com Os noivos, de Alessandro Manzoni (Nova Alexandria). Pela coleção Estudos Italianos, já publicou ‘Pirandello ‘novellaro’. Da forma à dissolução’ (Nova Alexandria).