O catolicismo, que desembarcou por aqui a partir da colonização portuguesa, foi se moldando de uma maneira um tanto polifônica, talvez mesmo informal, que inclui a veneração aos santos canônicos, aos santos populares e a espiritualidades cruzadas por influências indígenas e africanas.
No panorama histórico e cultural apresentado em Santos de casa: fé, crenças e festas de cada dia, interessa ao historiador Luiz Antonio Simas – que tem se dedicado em uma série de livros a inventariar as culturas e tradições brasileiras, ou seja, as brasilidades – entender não apenas como a igreja santificou as mulheres e os homens ao longo do tempo, mas, sobretudo, como o povo humanizou os santos nas invenções cotidianas da vida praticada na dimensão do encantamento do mundo. Assim, entram em cena festas, quermesses, crendices, benditos, ladainhas, cheiros, sabores, procissões, novenas, simpatias, ventos, fogueiras, encruzilhadas, presépios e outras expressões da paixão e da fé do povo brasileiro. Trata-se de uma declaração de amor – embasada em pesquisas, memórias e afetos – ao cristianismo do assombro e do universo fantástico do povo festeiro do Brasil. A edição é impressa em cores e fartamente ilustrada com imagens de mais de 20 santas e santos feitas pela artista Aline Bispo.
‘Não questionamos nem afirmamos a veracidade dos relatos que se seguem. A mentira para quem não crê, como lembrou o poeta Jorge de Lima, é o milagre para quem sofreu. Guimarães Rosa dizia que os santos foram homens que alguma vez acordaram e andaram os desertos de gelo. Tentemos ao menos acariciar, ainda que minimamente, o espanto e o assombro dessas caminhadas.’
Luiz Antonio Simas
Yazar hakkında
LUIZ ANTONIO SIMAS é professor, historiador e escritor. É autor de diversos livros, como Dicionário da história social do samba, escrito com Nei Lopes, com o qual venceu o Prêmio Jabuti 2016 na categoria Livro de Não Ficção do Ano; Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas (2018), com Luiz Rufino; e Samba de enredo: história e arte (2010), com Alberto Mussa. Trabalhou como consultor, ao lado de Ruy Castro, Sérgio Cabral, Jairo Severiano e Hermínio Bello de Carvalho, no processo de criação do novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e recebeu, em 2014, por serviços prestados à cultura do Rio de Janeiro, o conjunto de medalhas da comenda Pedro Ernesto, conferido pela Câmara Municipal. Tem mais de uma centena de artigos e textos publicados em jornais e revistas sobre a cultura popular brasileira. É jurado do Estandarte de Ouro, a mais tradicional premiação do carnaval carioca, e também autor de livros como O corpo encantado das ruas, Umbandas: uma história do Brasil, Filosofias africanas (com Nei Lopes), Almanaque Brasilidades: um inventário do Brasil popular e Arruaças: uma filosofia popular brasileira (com Luiz Rufino e Rafael Haddock-Lobo), os dois últimos editados pela Bazar do Tempo.