Dicionário dos intraduzíveis: um vocabulário das filosofias é um instrumento indispensável não apenas para tradutores e especialistas em autores e temas específicos, mas para todos os estudiosos interessados nas questões de filosofia, de linguagem e de humanidades em geral. Traduzido e adaptado do Vocabulaire Européen des Philosophies (VEP) [Vocabulário Europeu das Filosofias], publicado sob a direção de Barbara Cassin em 2004, trata-se de uma obra que também pode ser lida como um grande ensaio sobre diversas filosofias, tal como podem ser feitas em línguas e através delas, explorando as transferências de ideias lá onde as palavras e expressões mostram sua diversidade não como um obstáculo, mas como um dispositivo criativo para o pensamento. Ele é muito diferente de um dicionário de conceitos filosóficos, ainda que se sirva de definições e busque explicações conceituais para os termos que aborda. Ele se interessa justamente por onde falha a universalidade do conceito, e este não pode ser simplesmente vertido em outra língua por um único termo equivalente. Nesses lugares, o Dicionário busca explicitar os pontos de variação e incompletude, sobretudo onde os termos e as expressões podem gerar equívocos de uma língua a outra e em que efetivamente geraram ao longo das transmissões e tradições de obras filosóficas.
Os dicionários dos intraduzíveis – no plural -, traduções e adaptações do vocabulário francês original, foram efetivamente para além das nações e das línguas europeias: foi traduzido e adaptado para ucraniano, romeno, inglês, árabe, russo, espanhol e português. Prepara-se uma edição em italiano e o terceiro volume em português, além de estudos para a sua tradução em chinês, japonês e hebraico. Diversas línguas que eram ausentes da edição original foram incorporadas, ampliando o conteúdo e o número de verbetes em cada nova edição.
Este segundo volume do Dicionário brasileiro, debruça-se sobre os campos da ética, da política e do direito. As entradas ligadas a tais áreas foram selecionadas e traduzidas do original francês e, em alguns casos, das versões estadunidense e marroquina. Além disso, foram produzidos especialmente para este volume verbetes, quadros e comentários críticos originais. O resultado final poderá ser apreciado por todas as pessoas interessadas em tradução, mas também nas questões de língua em geral, bem como nas filosofias do direito, da ética e da política – ou simplesmente nas filosofias e no seu amor pelo saber das palavras.
Про автора
BARBARA CASSIN, membro da Academia Francesa e pesquisadora emérita com a medalha de ouro do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), nasceu em 1947, em Boulogne-Billancourt, no subúrbio de Paris. Foi aluna de Michel Deguy e de Jean Beaufret no Lycée Condorcet e de Ferdinand Alquié na Sorbonne, onde defendeu, em 1968, sob orientação deste, sua dissertação de mestrado. Em 1969, encontrou Heidegger e René Char no terceiro Seminário de Thor, de cuja organização participou. Nessa época, participou também da tradução de algumas obras de Hannah Arendt. Realizou seu doutorado sob a orientação de Pierre Aubenque, Jean Bollack e Heinz Wismann. A tese, defendida em 1974, deu origem a seu primeiro livro, Se Parmênides, que só viria a ser publicado em 1980. Considerada a mais importante estudiosa da sofística grega na atualidade, construiu, a partir desse estudo, um pensamento filosófico voltado para a diversidade das filosofias em línguas. Vários de seus livros já foram traduzidos no Brasil, entre eles Ensaios sofísticos (Siciliano, 1990), O efeito sofístico (Editora 34, 2005), Se Parmênides (Autêntica, 2015) e Jacques, o Sofista (Autêntica, 2017).