Fantasmas de esposas que retornam ao mundo para assombrar, almas que vivem em corpos de borboletas, formigas que criam grandes civilizações, e muitos outros seres incríveis estão nessas narrativas tradicionais japonesas, recolhidas e escritas pelo escritor Lafcadio Hearn.
No final do século XIX, o Japão vivia um processo de abertura ao Ocidente com o início da era Meiji. Vindo dos Estados Unidos, Lafcadio Hearn encontrou ali uma atmosfera cultural e existencial que respondia às suas aspirações de tomar contato com uma visão distinta do racionalismo ocidental. Questionando os valores americanos e europeus, ele apreciava a concepção de mundo que ainda prevalecia no Japão antigo: ciência e poesia concebidas como um elemento uno, que não se separavam. E, nesta nova terra, registrou contos populares da rica tradição japonesa, num olhar que resgata uma cultura oral que naquele momento já se perdia, em face da ocidentalização.
Além das clássicas narrativas reunidas em Kwaidan, a presente edição é enriquecida com os contos que compreenderam o livro Estudo de insetos, também de Hearn, este escritor que, embora greco-americano, pode ser considerado uma das mais expressivas vozes da literatura japonesa.
Про автора
Lafcadio Hearn nasceu em 1850, na Grécia. Filho de uma grega e de um angloirlandês, aos cinco anos foi obrigado a morar com uma tia, na Irlanda, devido à separação dos pais. O jovem estudou por um curto período em um colégio católico na Inglaterra, mas a fé religiosa na qual ele foi criado logo se perdeu e, aos 19, emigrou para os Estados Unidos da América onde, após cinco anos de dificuldades financeiras, foi contratado como repórter pela revista Enquirer. Em 1889 viajou para o Japão com o objetivo de ensinar língua inglesa na Escola Normal Matsue. Tornando-se in-fluente nos círculos sociais locais, casou-se com a filha de um samurai e naturalizou-se japonês. Neste país, portanto, encontrou seu lugar, reconstruindo uma história pessoal antes marcada pela incompati-bilidade com os valores ocidentais. Morreu em 26 de setembro de 1904 na pátria que o acolhera de modo tão caloroso.