Ressentimento, obra pioneira da psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, ganha, em 2020, uma nova edição pela Boitempo, com um novo prefácio e projeto gráfico. O livro aborda a conceitualização do ressentimento a partir de quatro pontos de vista: a clínica psicanalítica, a filosofia de Nietzsche e Espinosa, a produção literária e o campo político. O ressentimento não é um conceito clássico da psicanálise; assim, Maria Rita Kehl mobiliza tanto as suas observações clínicas quanto conhecimentos de outras áreas para definir e explicar a constelação afetiva que forma o ressentimento.
‘Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer’ – é desse modo que o ressentido se conduz a um beco sem saída: ao não assumir a responsabilidade sobre a própria situação, ele busca apenas uma vingança ‘imaginária e adiada’. Faz-se notar, assim, a atualidade do tema do ressentimento, presente nos conflitos sociais daqueles que não se veem como agentes da vida social e política. Apenas a partir da tomada de consciência da própria responsabilidade enquanto sujeitos de nossas ações é possível abrir mão da passividade – e dos ganhos secundários – da posição ressentida.
Про автора
Maria Rita Kehl é doutora em psicanálise pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), atua desde 1981 como psicanalista em clínica de adultos e, desde 2006, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENF). Atuou como jornalista entre 1974 e 1981, em diversos jornais e revistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em 2010 recebeu o prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não ficção com O tempo e o cão.