Falar de alimentação é falar de cultura, meio ambiente, relações de poder, sustentabilidade, afeto, prazer, tradição e muito mais, além do aspecto mais óbvio do impacto do que comemos na nossa saúde. Marion Nestle reúne, em Uma verdade indigesta, elementos fundamentais sobre alimentação, que desfazem a aparente confusão sobre o tema. Ao trazer essa discussão para o Brasil, certamente temos um debate mais rico para separarmos o joio do trigo.
Na atual conjuntura de concentração de poder entre os atores que controlam os sistemas alimentares da produção ao consumo, o que comemos e o que sabemos ou acreditamos saber sobre o ato de comer é fortemente determinado pelas relações de poder na sociedade. A pressão pela maximização do lucro a qualquer preço tem uma série de efeitos colaterais com sérios impactos na nossa saúde, seja do ponto de vista do efeito no nosso organismo, seja nos impactos ambientais.
Criar produtos comestíveis com ingredientes baratos, cheios de aditivos, aromatizantes, estabilizantes, espessantes, corantes, com pitadas de nutrientes para que possam ser vendidos como saudáveis, é uma das especialidades da indústria de alimentos ultraprocessados. O livro expõe essas mesmas empresas patrocinando ‘estudos’ de produtos específicos que deveriam ser rotulados como marketing — e não como ciência.
Nenhum de nós está a salvo ou impermeável às alegações nutricionais amplamente promovidas, diretamente nos rótulos, onde são permitidas, ou por meio da disseminação de pesquisas que contribuem mais para confundir as recomendações alimentares do que para informar. O exemplo clássico é o do ovo, que de vilão da vez passou a mocinho, assim como sal, açúcar, e por aí vai.
Por muitos anos acreditei que o problema crônico de intestino preso, comum a muitas mulheres, pudesse ser solucionado tomando um determinado iogurte diariamente e, caso não funcionasse, como prometia a propaganda, poderia pedir o dinheiro de volta. Esse é apenas um, dentre inúmeros exemplos da confusão nutricional em que estamos imersos.
— Paula Johns, diretora-presidente da ACT Promoção da Saúde, no prefácio
Зміст
1. Uma história para ter cautela
2. A complexidade da nutrição em benefício da confusão
3. Doce vida: açúcar e doces como alimentos saudáveis
4. Venda de carne e laticínios
5. Marketing não é ciência
6. Coca-cola, um estudo de caso
7. Comitês conflitantes: antes e agora
8. Cooptado?
9. Soluções frágeis
10. Justificativas, fundamentos e desculpas – todos estão em conflito?
11. Divulgação e descontentamento
12. Gerenciamento de conflitos
13. Além de divulgar, o que fazer?
14. É hora de agir
Про автора
Marion Nestle nasceu em 1936. É professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York. É também professora visitante no curso de Ciências Nutricionais da Universidade de Cornell. É autora, entre outros, de Food Politics [Políticas da comida] (University of California Press, 2002) e Soda Politics [Políticas do refrigerante] (Oxford University Press, 2015), nos quais explicita as estratégias da indústria de alimentos para criar confusão na ciência e na formulação de políticas públicas em benefício próprio. Ao longo de mais de meio século de carreira acadêmica, acumulou premiações e homenagens, como o Public Health Hero [Heroína da saúde pública] da Universidade de Califórnia em Berkeley.