O tema da mentira envolve dois grandes problemas filosóficos: saber se a mentira faz parte da natureza humana ou da essência do ser humano e se esta entra em contradição com a verdade, motivos pelos quais o tema foi trabalhado por diversos pensadores desde a Antiguidade, tanto entre os pagãos como entre os cristãos; entretanto – como observa Boniface Ramsey –, Agostinho é o primeiro Padre da Igreja a ter abordado esse tema, consagrando-lhe um tratado intitulado A mentira, em 395. Vinte e cinco anos mais tarde, em 420, não estando satisfeito com o que ali havia escrito, ou tendo deixado alguns pontos confusos ou obscuros na primeira obra, escreveu um segundo opúsculo, intitulado Contra mendacium (Contra a mentira). Em síntese, Agostinho foi levado a escrever essas duas obras para combater principalmente a má interpretação dada por alguns católicos que consideravam certos tipos de mentiras como úteis e moralmente aceitáveis, como um ‘mal necessário’ ou um ‘mal menor’ para se evitar um ‘mal maior’, antecipando-se aquilo que na Modernidade ficaria conhecido por ‘tese da exceção à mentira’.
Про автора
Aurélio Agostinho de Hipona (em latim: Aurelius Augustinus Hipponensis[2]), conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, [3] cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Foi bispo de Hipona, uma cidade na província romana da África. Escrevendo na era patrística, é amplamente considerado como o mais importante dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas são De Civitate Dei (‘A Cidade de Deus’) e ‘Confissões’, ambas ainda muito estudadas atualmente.