Pensadora da crise e do recomeço, Hannah Arendt (1906-1975) produziu uma obra incomparável sobre os acontecimentos do século XX e suas repercussões. Os textos reunidos neste livro atestam a sua capacidade em avaliar com rigor teórico e compromisso ético as principais questões de seu tempo, criando diagnósticos que se tornaram referência nos mais diversos campos das ciências humanas. Produzidos entre os anos 1950 e 1970, esses escritos, em grande parte inéditos, atravessam o período em que a Arendt escreveu suas obras mais importantes. Dessa forma, é visível o diálogo estabelecido entre as reflexões presentes nesta edição – em ensaios, aulas, estudos e entrevistas – e trabalhos como Origens do totalitarismo, Sobre a revolução e A condição humana.
Na coletânea estão mais de quarenta textos com propósitos e estilos diferentes: projetos de pesquisa como o que a autora dedica a Marx, uma série de estudos sobre o significado das revoluções modernas, discursos como o de agradecimento pelo recebimento da Medalha Emerson-Thoreau, importante prêmio literário concedido pelo Academia Americana de Artes e Ciências, homenagens a amigos, como o filósofo Martin Heidegger e o poeta W. H. Auden, cartas e entrevistas que trazem detalhes da vida e a obra da autora.
O pensamento de Hannah Arendt, de atualidade surpreendente e sempre atento aos sentidos da vida pública e do bem comum, continua sendo chave fundamental para a leitura do mundo contemporâneo, das configurações políticas e possibilidades de futuro.
‘Pensar sem corrimão foi a expressão usada por Hannah Arendt para qualificar seu próprio modo de pensar. Ela reconheceu que no tempo em que viveu (e no qual, de algum modo, vivemos ainda hoje) já não estavam disponíveis as diretrizes legadas pela tradição para nos orientar no caminho do pensamento. Hannah Arendt é uma pensadora da crise – não apenas da tradição intelectual, mas das instituições políticas e, possivelmente, da própria civilização do Ocidente.’
– Eduardo Jardim
Giới thiệu về tác giả
Hannah Arendt nasceu em 1906, na Alemanha. Teve como mestres os filósofos Martin Heidegger e Karl Jaspers, tendo este último orientado sua tese de doutorado sobre Santo Agostinho. Por ter participado de atividades ligadas ao movimento sionista, foi presa em 1933 e escapou para a França, onde viveu até 1941. Nesse período, casou-se com Heinrich Blücher e fez ami¬zade com Walter Benjamin. Em 1941, depois de uma permanência em um campo de refugiados no sul da França, foi para Nova York, onde se instalou definitiva¬mente, tendo adotado a cidadania americana. Nos anos seguintes, acompanhou os acontecimentos na Europa e publicou As origens do Totalitarismo, de 1951. A parte mais importante de sua obra data dos anos 1950 e 1970, com A condição humana (1958), Entre o passado e o futuro (1961), Sobre a revolução (1963). Envolveu-se em 1963 na polêmica em torno do livro Eichmann em Jerusalém (1963). Em pauta esta¬va o significado do subtítulo do livro: um relato sobre a banalidade do mal. Também nos anos 1960, foram pu¬blicadas suas intervenções no debate político, em Sobre a violência (1970) e Crises da República (1972). Os anos 1970 foram dedicados à filosofia e a compor A vida do espírito – última obra, inacabada – em que foram con¬sideradas as atividades do pensar, do querer e do julgar. Hannah Arendt morreu em 1975, nos Estados Unidos