Do mundo de Herberto Helder ensina: ‘A luta é dolorosa desde sempre/ antes de Homero escrever/ cantar que a luta é dolorosa’ (Maffei, Vista de Olímpia, 2016). Aceite o ensaio como gênero impuro (Goulart), no limiar do poema, sem estabelecer dependência de qualquer lei de gênero (Silvina Rodrigues Lopes), enquanto acadêmico e ensaísta, Luis Maffei não teme interrogar a hipótese de haver uma pedagogia da poesia em geral e da herbertiana em particular, sabendo que ensinar literatura é já um paradoxo. Leitor incendiado por dentro do fogo que a faca não corta, Maffei coloca-se no centro da ferida-Herberto – quem será este tipo? quem será este texto? –, em combate e embate frontal com o poema, puro e duro, em cópula. Resultado do trabalho de mais de década e meia de investigação, este livro participa da lição (e é dela réplica, também sísmica) de Camões e de Herberto-leitor-de-Camões, conforme à metamorfose do amador em que se transforma o leitor na coisa lida. Em pathos e patologia partilhada com raros ensaístas que pertencem à comunidade aflitiva que lê A poesia portuguesa hoje (Gastão Cruz), Luis Maffei é, dos da sua geração, um dos mais antigos, informados e potentes leitores da atualidade, sujeito forte em diálogo revolto e desobediente com parte do cânone da literatura portuguesa, que se refaz com a sua leitura. A concepção eminentemente atual do poema (Ruy Belo, Na senda da poesia) herbertiana é, pela leitura de Maffei, expandida a um programa: o exercício de um poder que atende pelo nome arriscado de liberdade. A luta é dolorosa e a poesia não salva. E, no entanto, há raros leitores como Maffei (um dos ensaístas vivos que me interessa mais), que criam uma zona de liberdade transitável. Este lugar (em que é livre também ser contaminado) é lição a ser aceite por quem ler ‘os livros atrás a arder para toda a eternidade’.
Giới thiệu về tác giả
Professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), mestrado (2003) e doutorado (2007) em Literatura Portuguesa pela mesma instituição – neste último, apresentou a tese DO MUNDO DE HERBERTO HELDER. Como ensaísta, publicou os livros DO MUNDO DE HERBERTO HELDER (Oficina Raquel, 2017), CIRANDA DA POESIA – MANUEL DE FREITAS POR LUIS MAFFEI (Ed UERJ, 2015), DESPEJO QUIETO – ENSAIOS SOBRE POESIA PORTUGUESA (Ed UFF, 2015) e, com Pedro Eiras, A VIDA REPERCUTIDA – UMA LEITURA DA POESIA DE GASTÃO CRUZ (Lisboa, Esfera do Caos, 2012). Organizou, em parceria com Diana Pimentel, ATÉ QUE – HERBERTO HELDER (Lisboa, Guilhotina, 2015); com Ida Alves, o livro POETAS QUE INTERESSAM MAIS – LEITURAS DA POESIA PORTUGUESA PÓS-PESSOA (Azougue); com Lilian Jacoto, SOLDADO AOS LAÇOS DAS CONSTELAÇÕES – HERBERTO HELDER (Lumme); e com Jorge Fernandes da Silveira, POESIA 61 HOJE (Oficina Raquel). É também poeta, tendo publicado, em 2006, A; em 2008, TELEFUNKEN; em 2010; 38 CÍRCULOS; em 2011, PULSATILLA; em 2013, SIGNOS DE CAMÕES; em 2015, 40; e, em 2016, VISTA DE OLIMPIA. Em 2012, estreou como contista com o livro CONTOS DA COLINA ? 11 ÍDOLOS DO VASCO E SUA IMENSA TORCIDA BEM FELIZ, escrito em parceria com Nei Lopes e Mauricio Murad. Coorganizou, com Mayara R. Guimarães, o livro de contos EXTRATEXTOS 1 – CLARICE LISPECTOR, PERSONAGENS REESCRITOS, no qual também participa como contista. Como ensaísta, tem textos publicados em diversas revistas, como METAMORFOSES, IPOTESI e VIA ATLÂNTICA, e as portuguesas COLÓQUIO/LETRAS, RELÂMPAGO, TELHADOS DE VIDRO e CADERNOS DE LITERATURA COMPARADA. Coordena, para a editora Oficina Raquel, a série PORTUGAL, 0, dedicada à novíssima poesia portuguesa. Pelo conjunto da obra, recebeu o prêmio Icatu de Artes – Literatura, 2013. É Sócio Benfeitor do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.