Fantásticas – Volume I reúne três narrativas. ‘Arria Marcella’ (1852), de Théophile Gautier, tem como pano de fundo os escavamentos na região de Pompéia. Ali, o romântico e sonhador Octavien acaba distanciando-se de seus colegas e, numa espécie de delírio, vê a paisagem se transformar Pompéia do século I, às vésperas da erupção do Vesúvio.
‘Os mortos são insaciáveis’ (1875), do escritor austríaco Leopold von Sacher-Masoch, conta a história de um simpático rapaz que, em uma reunião familiar, toma conhecimento de uma lenda sobre certa estátua que costuma ganhar vida num castelo da região. Intrigado, ele resolve procurá-la e é levado à perdição pelo corpo daquela mulher de mármore.
Maria Bormann, que escrevia sob o pseudônimo de Délia, precursora da literatura feminina brasileira, encerra o volume com o conto ‘Estátua de neve’ (1890). Carmem é a protagonista da narrativa e, assim como a personagem-título do famoso conto de Prosper Mérimée, é uma mulher que goza de autonomia sobre sobre o homem apaixonado por ela — e sobre o amor, em geral — no Brasil do fim do século XIX.
Giới thiệu về tác giả
Théophile Gautier (1811-1872), poeta, contista, romancista e libretista francês, foi apadrinhado por Victor Hugo e participou da ‘Batalha de Hernani’, polêmica envolvendo uma renovação na estética teatral. A escrita de Gautier, rica e variegada, aborda elementos fantásticos, inspirados em suas leituras e em suas experiências com o haxixe. Gautier atravessou o romantismo e o parnasianismo na França, podendo ser considerado um dos precursores da ‘arte pela arte’, à qual contribuiu com sua criatividade em debates estéticos e políticos. Gautier é, ao mesmo tempo, uma testemunha e um divisor de águas na literatura francesa do século XIX.
Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895), historiador, jornalista e escritor de expressão alemã, teve uma vida marcada por traições e crises financeiras. Autor de uma obra polêmica, de estranha sensualidade, foi estigmatizado pela crítica, que o acusava de ser ‘antinatural e niilista’. A partir de seu nome, o psiquiatra Krafft-Ebing cunhou o termo ‘masoquismo’, definição ainda hoje controversa. A obra mais conhecida de Masoch é A Vênus das peles (1870). Como em muitos de seus escritos, reconhecem-se nela elementos autobiográficos de seu relacionamento com Angelika Rümelin, sua amada dominatrix, também escritora.
Maria Benedita Câmara Bormann (1853-1895), cronista, romancista, contista e jornalista gaúcha. Filha de um funcionário público, casou-se cedo com o tio materno por vontade da família. Dotada de espírito artístico aguçado (falava francês e inglês, tocava piano e era cantora mezzo-soprano), adotou o pseudônimo de ‘Délia’ em suas narrativas literárias, que eram publicadas em jornais. Sua obra, de estilo refinado, libertário e repleto de ironia, se destaca daquela de seus contemporâneos. Ainda timidamente presente na literatura brasileira, Bormann é uma grande escritora que começa a ser descoberta graças à sua coragem e à sua originalidade.