A urgência de pensar o animal é a mesma que obriga a refletir criticamente sobre a crença milenar na primazia ontológica do ser humano e em sua superioridade diante das outras espécies, contra as quais ele implementa lancinantes expedientes de exploração, experimentação e consumo que não só têm produzido todo tipo de sofrimento (o que já é terrível e condenável por si só) como têm contribuído para a extinção de muitas formas de vida que povoam ares, terras e águas.
Esse primeiro contrassenso, de cunho ontológico, fechou o animal em seu círculo próprio pretensamente intransponível (porque sem mediação linguística) e se desdobrou em um embuste moral que levou o homem a negar a própria animalidade em vista do presumido melhoramento fundado na racionalidade, cujo resultado foi o adoecimento, o enfraquecimento e o fastio do homem consigo mesmo.
Não é por outro motivo que a filosofia contemporânea tem se dedicado a rever a condição ontofenomenológica e a relação ética entre animais humanos e não humanos, tendo como fio condutor a própria animalidade que os unifica ontologicamente: em seu sentido mais complexo, esse se tornou um dos temas centrais do pensamento filosófico, especialmente a partir da segunda metade do século passado, cujo empenho tem sido desconstruir as prejudiciais hierarquias no plano geral da vida e repensar o animal humano em sua íntima relação com o inteiro mundo da vida.
Em tempos de um anti-humanismo que anunciou o fim do homem, abrindo caminho para muitas quimeras do pós e do transumanismo, pensar o animal pode ser um caminho para a renovação cultural e a afirmação de uma nova atitude dos seres humanos diante de si mesmos e diante do reino extra-humano, por onde vagam as vítimas silenciosas da nossa atual civilização urbano-tecnológica. Por isso, com a questão animal, a filosofia se reaproxima de seus grandes temas, do ponto de vista ontológico, epistemológico, antropológico e ético.
表中的内容
INTRODUÇÃO
Jelson Oliveira
ARISTÓTELES E OS ANIMAIS
Inara Zanuzzi (UFRGS)
O IMPENETRÁVEL CORAÇÃO ANIMAL: DESCARTES E CONDILLAC SOBRE
OS ANIMAIS
Hernán Neira (Universidade de Santiago do Chile, USACH)
A APORIA ANIMAL, OU PORQUE NÓS SOMOS TODOS VEGETARIANOS
NÃO PRATICANTES
Étienne Bimbenet (Université Jean Moulin – Lyon 3)
O ANIMAL NÃO É COISA: SOBRE A AMBIGUIDADE DO ANIMAL NA ANALÍTICA
EXISTENCIAL DO DASEIN
Diana Aurenque (Universidade de Santiago do Chile, USACH)
CARÊNCIA E SOFRIMENTO:
A IDENTIDADE ÍNTIMA DE TODOS OS SERES EM SCHOPENHAUER
Eduardo Ribeiro da Fonseca (PUCPR)
ENTRE VACAS, ASNOS, ÁGUIAS E SERPENTES:
NIETZSCHE E A METÁFORA ANIMAL
Jelson Oliveira (PUCPR)
ÉTICA DA ALTERIDADE EM EMMANUEL LEVINAS: UMA PROPOSIÇÃO
PARA A ÉTICA DOS ANIMAIS HUMANOS E NÃO HUMANOS
Silvestre Grzibowski (UFSM)
OUTRIDADES ANIMAIS: DIÁLOGO LITERÁRIO-FILOSÓFICO
Angela Guida e Camila Freitas (UFMS)
关于作者
Jelson Oliveira é doutor em filosofia pela UFSCar e professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR. É membro do Grupo de Pesquisa Hans Jonas do CNPq, atual coordenador do GT
Hans Jonas e membro do GT de Filosofia da tecnologia e da técnica da ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia).
Autor de vários artigos e livros, entre os quais Para uma ética da amizade em Friedrich Nietzsche (7Letras), Compreender Hans Jonas (Vozes) e a trilogia Sabedoria Prática (PUCPress). É coautor de Diálogo sobre o tempo e Diálogo sobre a alegria (Coleção Café com Ideias, da PUCPRess).
Sua pesquisa enfatiza temas de Ética e Filosofia Contemporânea, Filosofia da Técnica e Ética Ambiental, atuando principalmente com autores como Nietzsche, Schopenhauer e Hans Jonas.
O presente livro é um dos resultados do projeto de pesquisa de pós-doutoramento na Universidade de Exeter, no Reino Unido, que contou com bolsa da CAPES (processo BEX 6115/15-2), à qual são expedidos os devidos agradecimentos.