Jacques Lacan abre infinitos campos, deixando a cargo de suas leitoras e leitores um trabalho inesgotável. Muitos se perdem nessas largas florestas de referências e circulam desorientados pelos sinuosos labirintos de suas articulações. Esse definitivamente não é o caso de Léa Silveira em A travessia da estrutura em Jacques Lacan. A autora segura o irreverente psicanalista com rédeas curtas. Esmiúça a obra partindo da noção lacaniana de sujeito com bisturi em mãos e lentes de aumento nos olhos. Perfura a carne em torno de cada caroço notado até dissolver os nós que os cristalizam. Em torno do sujeito há toda uma estrutura que o determina e, ao mesmo tempo, não é capaz de soterrar sua singularidade. Aliás, o que é singular só pode existir em função do conjunto de determinações estruturais que compõem as camadas sociais e políticas, mas paradoxalmente resiste a tal ordenação. Eis o impasse capcioso que a autora ousa enfrentar, expondo aos leitores as várias implicações de tal enredamento. Se alguém busca uma obra capaz de explicitar problemas colocados pelo psicanalista francês, sem reduzi-los a fórmulas fáceis, tem em mãos um precioso material de estudo. Não encontrará um caminho sem pedras, mas terá, sem sombra de dúvida, um mapa detalhado e muito bem desenhado para seguir.
Alessandra Affortunati Martins
Psicanalista e pesquisadora da Cátedra Edward Saïd (Unifesp)
关于作者
Léa Silveira é professora de Filosofia da Universidade Federal de Lavras, tendo participado da criação do Curso de Licenciatura em Filosofia, do Departamento de Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia nesta instituição. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará, mestrado em Filosofia e Metodologia das Ciências e doutorado em Filosofia, ambos pela Universidade Federal de São Carlos, e aperfeiçoamento em estágio de doutorado pela Université Paris VII – Denis Diderot. É membra do núcleo de sustentação do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF, do qual participa desde sua fundação em 2002, e também do Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas (GEPEF) e do comitê executivo da International Society of Psychoanalysis and Philosophy (SIPP-ISPP).