‘Os diários de Eunice Penna Kehl são um documento precioso. Eunice é inteligente, sensível, observadora; sua percepção informa e sensibiliza. Depressa ela se transforma numa espécie de amiga do leitor, e suas anotações iluminam com nitidez o mundo que o leitor recria na imaginação.’
Assim a editora Heloisa Jahn se referiu aos diários em que Eunice Penna Kehl registrou, entre 1935 e 1970, a vida em família da perspectiva de uma mulher culta, de classe média, no Rio de Janeiro do período do entreguerras. Mencionados ou apenas inferidos, acontecimentos políticos e fatos da história, no Brasil e no mundo, muitas vezes ganham em seu texto peso e nitidez surpreendentes.
Para Eunice, a ideia de escrever um diário não foi casual. Passado a limpo com esforço, o primeiro caderno surgiu com a função de fazer frente à depressão. Em 1935 Eunice perde Victor Luis, o filho mais velho, e essa dor a acompanharia a vida toda, bem como a culpa por julgar não ter cuidado bem do filho.
O ano seguinte traz os esforços de Eunice para superar essa perda. Além de cuidar das tarefas domésticas e familiares, ela abre uma academia de ginástica com uma amiga, iniciativa ousada para uma mulher de sua época. E, apesar de viver um casamento estável com o marido Renato, Eunice muitas vezes desabafa sobre seu caráter melancólico e neurastênico.
Em seu posfácio, afetivo e pessoal, Maria Rita Kehl parte das lembranças da avó para conciliá-las com aquilo que os diários revelam a respeito de Eunice e de sua época — o ‘curto século XX’ de Hobsbawm, quando o mundo parecia ter um futuro de progresso constante pela frente.
लेखक के बारे में
Eunice Penna Kehl nasceu em Juiz de Fora (MG) em 1901. Era filha de Maria Augusta Chaves e do médico sanitarista Belisário Penna (1868-1939). Em 1920 casou-se com Renato Kehl (1889-1974), médico que ficou conhecido como o ‘pai da eugenia’ no Brasil. O casal morou no Rio de Janeiro e na década de 1940 mudou-se para São Paulo. Tiveram dois filhos, Sergio Augusto e Victor Luis, que morreu em 1935, de septicemia. Eunice morreu em 1980, em São Paulo.
Maria Rita Kehl é psicanalista, jornalista e escritora. Começou a escrever para jornais e revistas na década de 1970, e atende em consultório particular desde 1981. Publicou vários livros, entre eles O tempo e o cão: atualidade das depressões, vencedor do prêmio Jabuti na categoria não ficção em 2010. Entre 2012 e 2014 integrou a Comissão Nacional da Verdade, criada pela presidenta Dilma Rousseff para investigar as graves violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar de 1964-85.