Em A Silveirinha somos transportados para o cotidiano de um verão petropolitano no início do século XX e às interações entre diferentes famílias que lá passavam a temporada. Bailes, saraus e jantares tinham uma importância essencial na consolidação de relações de interesse econômico, assim como a valorização dos títulos sociais e dos casamentos arranjados. Laços de amizade e intrigas que se formam no decorrer da narrativa, além da atuação feminina, que ganha destaque em uma sociedade onde o poder político, econômico e social estava, em tese, nas mãos de homens. A autora aproveita ainda a oportunidade para levantar um questionamento intrigante para mulheres de sua época, afinal ‘… uma mulher casada não deve ter opiniões próprias, não é verdade?’ As personagens femininas burguesas, a postura no enfrentamento do moralismo e da hipocrisia, e a importância da participação delas nos jogos de articulação e poder são os principais protagonistas desta obra.
Esta reedição do livro publicado em 1914 por Francisco Alves & Cia e Aillaud, Alves & Cia. teve a ortografia atualizada e conta com notas explicativas, para termos e palavras fora de uso.
Circa l’autore
Julia Lopes de Almeida (1862- 1934) nasceu no Rio de Janeiro e morou em Campinas (SP) da infância até a juventude, onde, com o incentivo da família, publicou as primeiras crônicas, aos 20 anos, na Gazeta de Campinas. Sua produção literária é ampla, composta de crônicas, contos, peças teatrais, novelas e romances.
Julia era defensora da educação feminina, do divórcio e da abolição do regime escravocrata, temas presentes em suas obras.
Em 1887 casou-se com o poeta português Francisco Filinto de Almeida e tiveram seis filhos: Affonso (jornalista, poeta e diplomata), Adriano e Valentina (ambos falecidos na infância), Albano (desenhista e pintor), Margarida (escultora e declamadora) e Lucia (pianista).
Embora tenha sido uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, Julia não foi aceita entre seus membros pois o regimento da época só permitia homens. Mas foi reconhecida pela Academia Carioca de Letras que a homenageou com a cadeira 26, sendo a única mulher entre os 40 patronos.