Perdoar é melhor que se vingar, disse Heráclito. Mas perdoar somente não basta. Pois um ato cruel, mau, destrutivo, inconsequente, causa desequilíbrio no mundo, e este precisa ser restaurado de alguma forma. Para restaurar o equilíbrio, é necessária a reparação, ou atonement (at-one-ment), palavra que significa tornar inteiro novamente. Tradição em muitos povos, é a prática que permite ao abusador se arrepender e fazer algo para reparar o mal feito. A reparação é necessária e funciona mesmo quando feita por outra pessoa, não pelo perpetrador do ato. Sem a reparação, falta o reconhecimento da humanidade tanto no abusador quanto no prejudicado. ‘Eu reconheço que você foi machucado em sua humanidade’, diz o abusador. ‘E eu reconheço que você é humano e falha’, diz o machucado. ‘O que posso fazer para aliviar meu senso de culpa e dar vazão ao meu arrependimento?’ Essa é a pergunta e a consequente ação que operam milagres e restabelecem a ética, solucionam conflitos e estancam a cadeia de violência que o mal iniciou. A alma é sanada assim como a sociedade. A partir do perdão e da reparação, inicia-se uma nova vida. Phil Cousineau entrevistou e colheu textos de personalidades mundiais que se destacaram por suas práticas de não violência. São pilares de amor pela humanidade, sabedores que, se praticarmos olho por olho e dente por dente, acabaremos todos cegos e desdentados. A prática do atonement muda o presente, o futuro, como também o passado. Diz Tutu: ‘A não ser que você trate o passado de forma criadora e positiva, corre o terrível perigo de não ter um futuro sobre o qual valha a pena falar. O passado pode ter um impacto desastroso ou benéfico sobre o futuro. A África do Sul será corroída gravemente se aqueles que se beneficiaram do odioso sistema de apartheid, considerados os opressores, não pedirem perdão pelas coisas hediondas feitas sob o apartheid e se as vítimas – os oprimidos – não lhes derem o seu perdão.
Circa l’autore
Phil Cousineau é escritor freelance, cineasta independente, apresentador de TV, fotógrafo, guia de viagens de peregrinação espiritual e palestrante internacional. Durante os últimos 20 anos, publicou mais de 25 livros, entre os quais A arte da peregrinação, Ágora, 1999, A jornada do herói, Ágora, 2004, e O ideal olímpico e o herói de cada dia, Mercuryo, 2004, selecionado pelo Comitê Olímpico dos Estados Unidos para presentear os atletas norte-americanos dos Jogos de Verão de 2004 em Atenas. Escreveu quinze documentários e atualmente apresenta o Global Spirit, na Link TV. Mora com a família em Telegraph Hill, Sn Franciso, onde é técnico de beisebol para jovens.