Em 1887, Nellie Bly tinha 23 anos quando recebeu do editor do jornal World a missão de se infiltrar como paciente no famigerado 'asilo de lunáticos de Blackwell’s Island’, em Nova York.
Munida apenas de sua audácia, a jovem repórter soube usar sua sagacidade para convencer médicos, policiais e juízes de sua insanidade simulada. A ironia desse fato não escapou à jornalista, que denunciou o despreparo dos profissionais que selaram seu destino e de tantas outras mulheres. Uma vez internada, a situação se agrava: 'desde o momento em que entrei no hospício da ilha, não fiz nenhum esforço para me manter no suposto papel de louca. Falei e agi exatamente como faço no meu dia a dia. Por incrível que pareça, quanto mais eu agia e falava com lucidez, mais louca me consideravam’.
As páginas que se seguem à internação de Bly são repletas de relatos que nem mesmo seu estilo espirituoso é capaz de atenuar. Enfermeiras sádicas, instalações precárias, médicos despreparados e pacientes indevidamente internadas são alguns dos horrores que a levam a concluir: 'à exceção da tortura, que tratamento levaria uma pessoa à loucura com mais rapidez?’.
Depois de resgatada, Bly escreveu a série de reportagens reunidas neste livro, clássico do jornalismo investigativo norte-americano e documento incontornável da luta antimanicomial. Mais de 130 anos depois de sua publicação, Dez dias num hospício continua assustadoramente atual.
O autorze
Elizabeth Cochran Seaman, mais conhecida pelo pseudônimo de Nellie Bly, nasceu em 1864 em Cochran’s Mills e morreu em 1922 em Nova York. Escritora, inventora, empresária e filantropa, foi correspondente no México em 1885 e pioneira do jornalismo investigativo, tendo se tornado uma celebridade em vida. Entre suas obras mais conhecidas estão Dez dias num hospício (1887) e Volta ao mundo em 72 dias (1890).