Para ser frutífera, a crítica não deve atacar o homem, mas as idéias. A força dessa análise advém do exemplo que o marxista argentino Atilio Boron traz a seus leitores: a beleza da fala não deve nos desviar da abordagem ou dos argumentos (se existirem). É sob esta convicção que diante de nós —e sem anestesia— se pratica um desmantelamento político com rigor e exigência, no auge de uma lenda.
Assim, com a intenção de entender politicamente Vargas Llosa, partimos de seu elogio ao sistema neoliberal – do qual se tornou um grande defensor público – para descobrir um prolífico próximo do poder e de sua ideologia, um disseminador oculto por trás da camuflagem da literatura e do boom latino-americano. O próprio Boron aponta: ‘Apesar de seu manejo elementar e tendencioso das categorias e teorias da análise política, ou talvez devido ao domínio com que lida com sofismas e ‘pós-verdades’, Vargas Llosa é uma peça fundamental no dispositivo massivo de ‘lavagem cerebral’ e propaganda conservadora que as classes dominantes das metrópoles e seus capangas nas periferias praticam com tanto cuidado’.
Sobre o autor
Atilio A. Borón (Buenos Aires, 1º de julho de 1943) é uma das figuras mais relevantes das ciências sociais na América Latina. Doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard, é professor titular da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) e diretor do Pled (Programa Latino-Americano a Distância Educação em Ciências Sociais). Colunista de diversos meios de comunicação, também foi secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) de 1997 a 2006. Entre seus reconhecimentos, vale destacar o Prêmio de redação Ezequiel Martínez Estrada, da Casa de las Américas 2004, por seu livro ‘Império e imperialismo’; e o Prêmio Internacional José Martí por sua contribuição à unidade e integração dos países da América Latina e do Caribe, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2009.