A proposta deste livro é, de alguma forma, dar notícia dessa e de outras funções que, nos cenários mais conturbados, a criação literária nunca recusou. Ancorado na imaginação, o exercício de resistência inscreve-se na produção dos autores africanos, sempre empenhados em estabelecer uma forte interlocução com a sua realidade e interessados, ao mesmo tempo, na superação de um código que limite a sua obra à condição de documento. Os autores aqui focalizados, de tempos e lugares distantes, com sólidas raízes em suas sociedades, apostam, a partir de diferentes estratégias, na dupla dimensão do trabalho literário, procurando articular de modos particulares a pena da ética e a tinta da estética. A vitalidade das formas trabalhadas, por exemplo, por José Luandino Vieira e José Craveirinha, dois dos ‘mais-velhos’ aqui enfocados, pode ser muito útil para refazer a direção de algumas leituras que buscam nos textos literários uma ponte direta com as realidades africanas, como se coubesse à literatura a tarefa de nos compensar pela falta de informações concretas desses mundos com os quais temos tanto em comum e dos quais permanecemos distantes.
Cuprins
Apresentação
Issaka Maïnassara Bano e Zeila de Brito Fabri Demartini
Luanda, cidade-mundo, ou da estética do desenvolvimento desigual em Os transparentes, de Ondjaki
Adriana Cristina Aguiar Rodrigues
‘Não basta ser mulher para ser justa’: resistência à marginalização de Paulina Chiziane fora do registo ficcional
Cremildo Bahule
Literaturas africanas para a sala de aula: desafios e perspectivas
Fernanda Gallo
‘Cacimbo e chuva e madrugada, noite e dia, desde o princípio do mundo, nosso sagrado espaço’: palmilhando O Livro dos Rios
Jacqueline Kaczorowski
Uma Fênix renascida das ‘cinzas da maldição’: poesia e história moçambicana em ‘O grito negro’, de José Craveirinha
José Lucas Góes Benevides, Delton Aparecido Felipe e Sandro Adriano da Silva
Transgressão dos padrões de linguagem em narrativas de Ahmadou Kourouma: recepção, legitimação e visibilidade
Providence Bampoky
Voltar a si, voltar à origem: Voltar para casa e Americanah
Raquel de Castro dos Santos
Recepção acadêmica brasileira às literaturas africanas
Ricardo Luiz Pedrosa Alves
Despre autor
ORGANIZADORES
Issaka Maïnassara Bano
Doutorando em Sociologia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-Unicamp, mestre em Educação pela Faculdade de Educação-Unicamp e bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. É membro do Núcleo de Estudos Carolina Maria de Jesus (Bitita) – Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Rurais e Urbanos-USP e coordenador do Coletivo Raízes São Paulo. Tem experiência na área de imigração, sociologia, educação e literatura africana, com ênfase em literatura africana de língua francófona.
Zeila de Brito Fabri Demartini
Possui graduação em CIÊNCIAS SOCIAIS pela Universidade de São Paulo (1968), Pós-Graduação em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1970) e doutorado em Ciências Humanas – Sociologia pela Universidade de São Paulo (1980). Atualmente é Pesquisadora 1C, consultora ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e diretora de pesquisa do Centro de Estudos Rurais e Urbanos. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Pesquisa em Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: histórias de vida, imigração japonesa, portuguesa e africana, educação escolar e não-escolar, infância, estado de São Paulo.