O volume inclui os principais textos que tornaram Eduardo Viveiros de Castro um dos mais influentes pensadores brasileiros da atualidade, no período que vai desde seu mestrado, em 1976, até 2000. Em grande parte centrados nas sociedades amazônicas, os oito ensaios são baseados em artigos publicados que foram selecionados e revistos pelo autor. Do forte diálogo entre a antropologia e a filosofia resultam conceitos-chave da obra do autor, como predação, troca, afinidade potencial e perspectivismo – o qual permite entender como os índios enxergam os animais e a si próprios. A disposição cronológica dos ensaios revela ao leitor o processo de amadurecimento de tais conceitos ao longo da trajetória do autor.
Conforme lembra o antropólogo no prefácio, a antropologia é sempre um exercício de tradução de uma cultura segundo outra. Reconstituir a imaginação indígena nos termos da nossa implicaria, portanto, algumas imprecisões. No entanto, se o exercício é bem feito, atinge-se o ponto em que transformamos o que entendemos em nossos termos em algo cujo significado se aproxima daquilo que os índios entendem nos termos deles. Ou seja, trata-se de um processo onde não somente a imaginação dos povos indígenas está em jogo, mas também a nossa; no qual os conceitos vão se distanciando cada vez mais de seus sentidos usuais e vão tomando novas formas.
O livro traz ainda entrevista com o autor – feita por jovens antropólogos da revista Sexta Feira – onde ele trata de seu percurso sob uma abordagem mais concreta. Ele revela, por exemplo, como se deu sua passagem de estudioso de antropologia urbana para um de etnologia indígena, e sua entrada na Amazônia, território ainda relativamente inexplorado mesmo dentro de sua disciplina.
A coleção Argonautas traça uma linhagem do pensamento antropológico que tem como centro de força o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss e que se ramifica em autores que inovaram e revolucionaram seus campos de pesquisa a partir de etnografias.
关于作者
Reconhecido internacionalmente pelos seus estudos em etnologia indígena, é um dos maiores antropólogos da atualidade e, como afirma Claude Lévi-Strauss, ‘é o fundador de uma nova escola na antropologia’. Formado em Ciências Sociais pela PUC-RJ, obteve seu mestrado em 1977 no Museu Nacional (UFRJ) com uma dissertação sobre os Yawalapíti, povo indígena do Alto Xingu. Tornou-se doutor pela mesma instituição com tese sobre a cosmologia dos Araweté, povo tupi-guarani do Pará, com o qual o antropólogo residiu entre 1981 e 1982. O trabalho foi premiado pela Associação nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), além de ter sido publicado no Brasil e nos Estados Unidos.
Entre suas produções destaca-se também o ensaio ‘Os Pronomes Cosmológicos e o Perspectivismo Ameríndio’ (1996), que foi traduzido para diversas línguas e influenciou os estudos de antropologia em todo o mundo. Professor adjunto do Museu Nacional (UFRJ), Viveiros de Castro foi professor visitante nas Universidades de Chicago, Manchester e Paris X (Nanterre), na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales e na Universidade de São Paulo, além de ser Fellow do King’s College.
Foi agraciado com a Médaille de la Francophonie da Academia Francesa (1998), o Prêmio Erico Vanucci Mendes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 2004), a Ordem Nacional do Mérito Científico (2008) e o título de Doutor Honoris Causa pela Université de Paris Ouest Nanterre La Défense (2014).