Édipo é expulso de Tebas como responsável pela peste que se abate sobre a cidade. A vítima está de acordo com seus carrascos. A infelicidade apareceu porque ele matou seu pai e casou-se com sua mãe. O bode expiatório supõe sempre a ilusão persecutória. Os carrascos crêem na culpabilidade de suas vítimas; estão convencidos, no momento da aparição da peste negra no século XIV, de que os judeus envenenaram os rios. A caça às bruxas implica que juízes e acusadas crêem na eficácia da bruxaria. Os evangelhos gravitam ao redor da paixão como todas as mitologias do mundo, mas a vítima rejeita todas as ilusões persecutórias, recusa o ciclo da violência e do sagrado. O bode expiatório torna-se o cordeiro de Deus. Assim é destruída para sempre a credibilidade da representação mitológica. Permanecemos perseguidores, mas perseguidores vergonhosos. Toda violência doravante revela o que a paixão de Cristo revela: a gênese imbecil dos ídolos sangrentos, de todos os falsos deuses das religiões, das políticas e das ideologias.
About the author
René Girard (1923-2015) foi membro da Academia Francesa e lecionou por muitos anos literatura francesa na Universidade de Stanford. Seus livros são estudados e traduzidos no mundo inteiro. Ficou conhecido como ‘o Darwin das ciências humanas’, tendo revolucionado os estudos de antropologia, literatura comparada, história das religiões e psicanálise com sua célebre e influente teoria mimética. Seus textos remetem a obras de grandes autores, como Lévi-Strauss, Marcel Mauss, Miguel de Cervantes, Dostoiévski, Mircea Eliade, Rudolf Otto, Sigmund Freud, Jacques Lacan, entre outros.
Pela PAULUS, foi publicado também seu belíssimo livro A rota antiga dos homens perversos, uma leitura do livro de Jó à luz de sua teoria mimética e de suas reflexões sobre o bode expiatório.